________________________________________________________CAPÍTULO IV
Ele.
Sozinho em minha sala olhava fixamente a cidade
abaixo dos meus pés e ela realmente estava nesta situação. As lembranças vinham
a minha mente, nunca quis nada daquilo sempre tentei me esquivar desta vida
obscura...
Em um dia Chuvoso vi pela primeira vez Lorenzo, o
único homem que conheci como pai, agir friamente contra a vida de alguém que o
desafiou, mediante minha reação de fraqueza socou meu rosto fortemente me
jogando ao chão e ordenou que me comportasse como um Barbieri. Naquele dia me
contou a verdade sobre os negócios da família, sobre a rede, minhas
responsabilidades neles e que tinha a obrigação de trabalhar para ele e ser
fiel como gratidão pelo que tinha feito por mim.
Aos oito anos de idade conheci Lorenzo Barbieri.
Quando ele passou por mim na rua, roubei sua carteira e ele sorriu da minha
tolice, por tê-lo enfrentado, negando o feito e o desafiado. Mal sabia onde
estava me metendo... No mesmo instante, levou-me para seu escritório onde
gostou do meu temperamento difícil e ao invés de me castigar deu-me um emprego,
uma casa e uma chance de sair das ruas. Identifiquei-me rapidamente com seu
mundo, me tornando excelente no que fazia e o enchendo de orgulho.
Quando completei dez anos de idade deu-me seu
sobrenome, luxos e conhecimentos. Daquele dia em diante me tornei seu filho,
seu braço direito o acompanhando onde quer que fosse e então não tive mais um
minuto de paz, fiz tudo que ordenou até coisas que corromperam minha alma e me
jogaram no inferno... Testou-me até o limite me transformando em um homem frio,
sem sentimentos ou escrúpulos.
Seus filhos legítimos só lhe trouxeram desgosto e
então me tornou seu sucessor nos seus negócios contrariando a todos. Escolheu
minha faculdade, cada passo da minha vida... Fez de mim sua copia fiel. Casou-me
com sua filha, me tornando parte da família, era o único modo de ficar a frente
de tudo quando ele faltasse sem que ninguém pudesse me tirar do poder até que todos
seus planos fossem concluídos. Agora estava sujo dessa lama até meu último fio
de cabelo.
Poder e dinheiro eram as palavras que resumiam minha
vida, no auge dos meus trinta e oito anos de idade havia vivido emoções que a
maioria das pessoas jamais sonhariam em viver. Fiz coisas das quais não me
orgulho e julgo-me por elas todas as noites, minha alma estava condenada...
Estava acostumado a ter tudo o que queria, como e
quando queria, era exatamente assim que gostava da minha vida, pelo menos até
aqui, pois pela primeira vez estava começando a pensar em outras coisas. Não
podia negar que algo estava mudando dentro de mim. Não tinha como evitar pensar nela, sua imagem
veio a minha mente, seu corpo... Precisava encontrar uma forma de convencê-la a
voltar para mim. Não seria fácil, mas tinha que fazer isso, era difícil admitir
que estivesse sentindo sua falta. Estava ficando preocupado, ‘o feitiço não
poderia virar-se contra o feiticeiro’, não podia me apaixonar, muito menos por
aquela garota... Um dia Lorenzo avia me dito que:
“Quanto mais
pessoas se ama mais fraco e vulnerável se torna o homem.”
- Senhor. – disse José entrando a sala e
interrompendo meus pensamentos.
- Sim. – respondi sem me virar.
- Temos um problema. - aquelas palavras fizeram meu
sangue subir, estava escutando-as muito ultimamente.
Agora não. Minha mente gritava.
- O que houve? – perguntei agitado.
- Marcelo tentando aprontar das suas, está na sala
de reuniões bastante nervoso. – explicou abrindo a porta para que saíssemos.
Aquele moleque já havia causado tantos problemas que
seu pai quase o deserdou. Irresponsável, inconsequente, eu não o suportava.
- O que está acontecendo? O que faz aqui Marcelo? –
perguntei chegando à sala de reuniões.
- Tentando tomar frente do negocio que é meu por
direito. – respondeu nervoso jogando vários papeis que estavam espalhados sobre
mesa no chão.
- Mais que merda é essa, o que está fazendo com
estes documentos? – gritei vendo a bagunça na sala. - Não tenho que lhe lembrar
de quem manda aqui. – esbravejei furioso com a petulância dele.
- O Marcelo tentou convencer Paolo e os Russos a lhe
tirar do comando, até marcou uma reunião com a rede, mas não deu muito certo. –
explicou Andrey serio - Também estava à procura de algum documento que pudesse
lhe comprometer de alguma forma, chegou a queimar alguns papeis.
- Sabe a dor de cabeça que isso vai me causar? –
perguntei chegando perto do Marcelo. Minha face estava destorcida pela ira. –
Você não passa de um moleque inconsequente, seu pai estava certo, não serve
para isto.
- Muito cuidado Enzo. – o avisou sério – Eu sou
filho legitimo e posso conseguir uma forma de te derrubar, você não tem direito
a nada. Somente o sangue importa!
- Vai tentando moleque. – instiguei – Mas por
enquanto quem manda sou eu! E você vai me obedecer se quiser ficar no Brasil,
caso contrário amanhã mesmo estará no Japão ou em uma vala por ai. – ameacei. –
E confesso que vou sentir muito prazer em fazer isto.
- Não vai ficar assim. – gritou agitado – Você vai
cair!
- Pode tentar. – disse serio – José avise a todos
que quero uma reunião urgente. Amanhã na primeira hora – concluí virando as
costas e saindo. Precisava controlar minha gana de mata-lo.
Enquanto dirigia acelerei o máximo sem muita
prudência, tentando colocar minha raiva para fora. O Marcelo sempre me causava
problemas, não poderia deixa-lo correr sem rédeas, precisava cortar suas asas o
mais rápido possível... Minha mente estava para explodir, minha cabeça doía e
tudo que queria era descansar, esquecer os problemas da empresa, da família,
até porque agora tinha outro problema, um bem mais gostoso de resolver:
Manoela.
Ela era algo em que valia a pena gastar energias.
Liguei varias vezes para o seu telefone, mas ela se
recusava em me atender. O que só estava deixando-me mais tenso, então resolvi
ir para casa, precisava de um bom banho para relaxar e clarear minha mente.
- Que bom que
chegou, estava lhe esperando. – começou Barbara cercando-me na porta do quarto.
Imediatamente me arrependi de não ter ido para o meu
apartamento, era o único lugar onde realmente tinha algum tipo de paz.
- O que deseja. - disse secamente não parando para
lhe dar atenção.
- Problemas no paraíso? Parece tenso. – A pergunta
me faz parar, fazia tempo que não ouvia essa frase e tentava não pensar nela.
- Não! – respondi entrando.
- Saudades. – confessou me abraçando por trás. – Faz
muito tempo que não me procura, só ficamos juntos uma vez depois que voltou
daquela conferencia e isto já tem mais de três meses.
- Estou ocupado. – respondi me soltando do abraço.
Não estava com cabeça e nem um pouco interessado
nela.
- Isto nunca foi motivo. – indagou seria se
aproximando novamente.
- Não estou em um bom dia. – avisei. – Então me
deixe em paz.
- Deixe-me ajuda-lo a relaxar. – disse tirando minha
camisa e acariciando meu peito.
Sua insistência, só estava deixando-me mais tenso.
- Por favor, deixe-me. – pedi me afastando.
- Tem outra mulher Enzo?
- Claro que não, você me sufoca o suficiente sozinha.
- Sempre teve seus casinhos sei disto, mas tem algo
diferente em você. – disse sentando-se a cama – Todos os finais de semana está
viajando, passa varia s noites fora sem nenhuma justificativa. Quem é ela desta
vez? Uma secretária, uma atriz... outra modelo? – indagou com raiva no olhar.
- Ela quem? Não seja paranoica!
- Então porque está me evitando?
Eu precisava tomar mais cuidado, não poderia colocar
a Manoela em perigo, pois ela era a minha salvação.
- Barbara, sabe muito bem que seu pai me deixou uma
bomba. – respondi tentando mudar o assunto. – Está tudo uma bagunça.
- Meu irmão poderia lhe ajudar, basta você deixar de
ser egoísta e dividir os negócios com ele, afinal são tantos. – disse se
levantando e vindo até mim – Quero te fazer relaxar. – confessou tirando suas
roupas devagar depois as jogando ao chão.
- Seu irmão é um dos meus problemas. – confessei
serio analisando seu corpo nu.
- Esqueça ele... Esqueça tudo. – orientou sorrindo
com malícia.
Suas mãos começaram a acariciar meu tórax, seu
lábios a beijar meu pescoço, sabia exatamente o que ela queria de mim. Era
muito atraente, sex, éramos bons juntos, mas não estava interessado, minha
cabeça estava na Manoela. O que me deixava mais tenso ainda.
- Me deixe descansar. – pedi saindo em direção ao
banheiro – Vou tomar banho, dormir e não quero ser amolado.
O outro dia não seria nada fácil e precisaria de
todas minhas forças para enfrenta-lo. Ela me fez lembrar todos os problemas que
tinha que resolver, precisava voltar à ativa o mais rápido possível, pois a
bomba estava quase para explodir e a minha cabeça era o alvo.
***
Enquanto esperava todos chegarem para a reunião meus
pensamentos estavam fixos nela, Manoela. Em seu rosto delicado, na falta que
estava sentindo, na culpa por tê-la enganado. Parecia estar apaixonado, não
devia, mas tinha que admitir que estava mais envolvido do que o esperado e que
dizer eu te amo não iria requerer muito sacrifício.
Está ficando
louco, pare de pensar nesta garota, Enzo. Afirmei a mim
mesmo.
- Estão todos te esperando. – avisou José entrando a
minha sala.
- Claro. – respondi soltando meu copo de Uísque e
saindo em direção à sala de reuniões.
Rever aqueles rostos que há muito tempo não via,
levou-me de volta no tempo, na primeira vez que fui apresentado a eles. Senti
medo e nada deram por mim tratando-me muito mal, sem nenhum respeito, riram e
mandara-me embora. Um garoto de rua, sem nome, sem linhagem de sangue nobre,
nunca seria parte daquele império, agora estava à frente de seus interesses e
todos tinham medo de mim.
Sou fã das
voltas que o mundo dá. Não tive como evitar o sorriso em
pensar nisto.
- Bom dia, senhores. – cumprimentei me sentando a
cabeceira da mesa – Não posso dizer que estou exatamente feliz em vê-los. Há
muito tempo não nos reunimos e esta reunião não nos trás nada de bom, lamento a
perda de nosso Lorenzo, mas os negócios continuam. – fiz uma breve pausa em sua
memoria.
- Como sabem ele deixou-me no comando por um prazo
de um ano até seu filho mais velho estar preparado para assumir ou até algum
Barbieri me passar o comando de forma definitiva, porém nosso querido Marcelo
Barbieri está reivindicando a presidência. – expliquei vendo o consentimento de
todos.
- Como é nosso costume o filho mais velho assumir
quero o meu lugar de direito o quanto antes, até porque nenhum Barbieri irá
passar o comando de forma definitiva para este mendigo. - Exigiu Marcelo
praticamente me interrompendo. – Sou um Barbieri legitimo não posso ficar em
segundo plano e nossas tradições não devem ser mudadas.
- A vontade de seu pai deve ser respeitada, vamos
aguardar o final do ano. Depois veremos como as coisas iram ficar. – orientou senhor
Caprielli serio como sempre.
Ele havia sido por muitos anos o melhor amigo e
conselheiro do Lorenzo. Ambos nasceram e foram criados na mesma região da
Itália.
- Mas... – insistiu Marcelo tenso. – Ele não é um
Barbieri legitimo. Não tem direito.
- Já basta Marcelo, sabemos toda sua ladainha. O
Enzo, pode não ser um Italiano, um Barbieri, mas foi aceito como tal e era o
braço direito de seu pai, já está no comando a mais de oito anos. – explicou
Caprielli interrompendo Marcelo. - É a pessoa mais capacitada para tal posição.
Além do mais era a vontade do Don Lorenzo e seu tio Don Paolo também concorda,
estive em reunião com ele na ultima semana.
- Para nós nada precisa mudar, confiamos no Enzo. –
avisou Dmitri Mikhailov, representante da Bratva no Brasil. – Não me importo
com essa história de sangue, para nós o que importa é a competência.
- Também penso que nada precisa mudar. - Concordou
Ruan Rodriguez, da Colômbia.
- Somente esses reboliços e conversinhas precisam
parar, apenas estão nos prejudicando e expondo. Somos homens de negócios
devemos honra nossa palavra. – continuou Caprielli.
Todos pareciam concordar o que me deixava muito
satisfeito.
- Se estamos de acordo que nada muda em nossa rede,
peço licença, pois tenho trabalho a me esperar – conclui cumprimentando a todos
e saindo da sala.
Meu sorriso de satisfação era imenso todas as tentativas
do Marcelo de me retirar do poder foram barradas pelos membros da rede. A
reunião não poderia ter sido melhor, eu tinha o prazo necessário para cumprir a
ultima vontade do Lorenzo e meu plano estava seguro. Só tinha uma coisa que me
preocupava agora; Ela, precisava encontrar uma forma pra que me perdoasse,
voltasse para mim e assim poder prosseguir com meu plano.
- Como ela está? – perguntei atendendo ao telefone –
Imagino. Fique de olho nela – orientei desligando o telefone e afundando em
minha cadeira.
Não estava conseguindo tira-la da minha mente.
- Senhor... – disse José entrando.
- Sim. – respondi virando para ele.
- As escutas estão todas prontas, conforme solicitou.
– avisou sentando.
- Ótimo. Preciso monitorar cada passo que deles. –
falei pensativo.
- E o que vamos fazer com as câmeras que eles
colocaram em seu escritório de casa?
- Deixe-as onde estão. – respondi me servindo um
uísque.
- Desconfia de quem seria o traidor? – perguntou
serio.
- Sei quem é – afirmei sorrindo com confiança - José
nada acontece sem que eu saiba. – disse bebendo um gole do Uísque em meu copo –
Só preciso esperar o momento certo para colocar minhas cartas na mesa. Este é
um jogo perigoso, mas eu sou mais.
- O senhor é o melhor jogador. – elogiou com sinceridade.
José era um bom soldado e um amigo legal.
- Desculpe a
intromissão, mas como vão as coisas com aquele plano? – indagou curioso.
- Tivemos uns probleminhas, mas estou saindo agora
para resolve-los. – confessei levantando. – Tudo conforme o esperado.
Precisava ir atrás dela.
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Ela
Minhas mãos tremiam, meu coração batia acelerado,
podia ouvir minha respiração ofegante, deixei-me escorregar vagarosamente
encostada a porta até sentar no chão frio da sala. Sua voz me chamando era mais
doloroso do que imaginava, sabia que logo ele viria falar comigo, mas não
estava pronta para abrir a porta.
As lagrimas começaram a molhar o piso e meu
desespero ficar nítido para ele do outro lado.
Não era para ser
assim!
- Por favor, Manoela. Preciso falar com você. – pediu
– Não quis lhe magoar, posso explicar. Deixe-me entrar.
Suas palavras entravam como facas em meu peito,
queria muito vê-lo, toca-lo, mas não podia deixar que tomasse mais conta do meu
ser, do que já tinha conseguido.
- Me perdoe, sinto sua falta. – confessou.
Eu soluçava de desespero.
- Preciso de você... Manoela, por favor!
- Vá embora. Acabou... - saiu como um gemido, foi a
única coisa que consegui disser. – Vá embora Enzo.
- Não! Vou ficar aqui até abrir a porta. – avisou –
Eu quero você, preciso de você... Te amo.
Essas eram palavras que há dias atrás teriam me
feito à mulher mais feliz do mundo, mas agora só me fazia à pessoa mais confusa
e machucada. Conseguia ouvir sua respiração, sentir seu cheiro. Coloquei minha
mão na porta, queria senti-lo, a proximidade me fazia quere-lo e isso fazia com
que me odiasse.
- Deixei-me explicar...
- Não há nada para explicar, você teve três meses
para isto e deixou que descobrisse da pior forma possível, me enganou, mentiu...
Agora não ouço suas palavras, elas perderam valor. – quase gritei
interrompendo-o.
Queria desaparecer.
- Não é o que está pensando.
Eu ri, ele era um canalha.
- É exatamente o que estou pensando. Você é casado e
estava apenas se divertindo comigo durante esses meses.
Meu coração estava em pedaços, quase não conseguia
acreditar.
- É bem mais complicado do que isto e você nunca foi
uma diversão. – afirmou – Posso explicar, deixe-me entrar – insistia. – Vamos
começar de novo.
- Agora é tarde. Não vou deixa-lo entrar nunca mais
em minha vida. – avisei tensa.
Estava determinada em esquecê-lo, em tira-lo de uma
vez do meu peito.
- Vou lhe explicar tudo, contar minha história. –
disse também se sentando no chão.
Naquele chão frio passamos horas... As coisas que
ele me contou me deixaram atordoada, confusa e com medo, jamais poderia
imaginar tudo aquilo apenas olhando para ele, seu passado, seu sofrimento e sua
frieza eram demais para mim. Mas não sabia se acreditava naquelas palavras,
parecia tão surreal. Um menino de rua adotado por um homem muito poderoso, uma
família fechada e tradicional, seu tempo na Itália, um casamento sem amor para
ter poder, não parecia ser verdade, algo não estava encaixando.
- Você é meu sopro de vida. - confessou – Preciso de
você.
Nada daquilo era suficiente para tirar do meu peito
a dor que o tinha invadido.
- Me deixe entrar, precisamos conversar... Olhe em
meus olhos e saberá que digo a verdade.
Eu estava petrificada ouvindo suas palavras. Meu
corpo estava frio.
- Vamos continuar de onde paramos. – insistiu.
Minhas lagrimas voltaram a rolar, minha cabeça doía
muito. Balançava a cabeça de desespero...
Porque comigo?
- Desculpe por omitir que era casado. Estou sendo
totalmente honesto com você agora.
Porque não me contou
quando nós conhecemos? Porque não foi honesto desde o começo? Tive
vontade de soca-lo, agora era tarde demais.
- Me perdoa?
A pergunta me fez chorar ainda mais, pois queria
dizer que sim. Estava em conflito, minha mente gritava dizendo que tinha que correr
para bem longe dele e meu coração me mandava abrir a porta e deixa-lo entrar de
vez na minha vida.
- Preciso de um tempo sozinha para pensar. – avisei
– Vá embora, por favor. – supliquei.
- Não! Vou ficar aqui. – avisou. – Preciso toca-la.
Ouvindo aquelas palavras meu corpo se arrepiou,
queria sentir novamente seu toque quente, minha alma ansiava por ele, mesmo
sendo completamente errado e proibido.
- Enzo, por favor, vá embora. – implorei e pude ouvir
sua respiração pesada enquanto se levantava e saia.
Deixe-me cair de vez no chão e permaneci ali deitada
por horas, pensando nas palavras que ouvi. Somente quando Elisa chegou que fui
para o sofá de onde também me recusava a sair.
Onde eu tinha me
metido?
Essa era a pergunta que minha mente repetia inúmeras
vezes na vã tentativa de obter algum tipo de resposta.
O coração sempre foi um território onde não podemos andar
ou mandar, mas o meu estava sendo o mais tolo dos tolos, por insistir em amar
um homem casado, cheio de segredos e com uma vida complicadíssima.
Porque tinha que
ser assim? Não poderia ter me apaixonado por um homem comum e solteiro?!
***
O vento balançava as folhas das arvores, a água do
lago movia-se lentamente. Sentada na grama do parque Ibirapuera, meditando,
abraçada com meu corpo, tentava não pensar, esquece-lo e consolar-me. Pude me
sentir livre pela primeira vez naqueles últimos dias, era tudo que precisava:
paz e ficar sozinha.
Depois de
muito chorar e sofrer trancada dentro de casa, não consegui chegar a lugar
nenhum, então resolvi sair para respirar ar puro na tentativa de que esquece-lo
e clarear minha mente. E definitivamente foi uma sabia decisão, mas meus únicos
pensamentos continuavam a ser sobre deixar São Paulo e voltar para casa;
Recife, a cidade que considerava meu lar, meu porto seguro, mesmo tendo vivido
por pouco tempo nela. Nasci e fui criada no sul do país, quando estava com
dezesseis anos de idade, meu pai foi transferido para trabalhar no nordeste e facilmente
me apeguei, apaixonando-me completamente pelo lindo mar de águas azuis
esverdeadas.
Estava tão confusa e triste, minha vida tinha virado
completamente de ponta cabeça. Era um daqueles momentos em que tudo que se quer
é voltar ao passado para evitar de cometer os mesmos erros. Desejava que existisse
o Ctrl Z em minha vida, que nunca o tivesse conhecido... Que pudesse
esquecê-lo.
Porque a vida
precisa ser assim, triste e complicada?
Ansiava pelo abraço carinhoso e acolhedor de minha
mãe, ela saberia me aconselhar e aliviar minha dor. Possuía esse dom, de sempre
acalmar-me e me fazer sorrir.
- Manoela.
Foi um choque ouvir aquela voz e não tive coragem
para me virar e enfrentar seu rosto.
Como ele me
encontrou ali?
- Sinto sua falta. – continuou chegando bem perto,
que podia sentir seu perfume e o calor de seu corpo.
- Por favor, vá embora! – pedi me levantando do
chão, mas ainda de costas para ele, suplicando para que as minhas lagrimas não
caíssem.
Ele tocou levemente meus ombros encostando mais
ainda nossos corpos, queria correr, mas estava paralisada.
- Sei que te magoei, não foi minha intenção, mas
também não tive a intenção de me apaixonar por você. – contou junto ao meu
ouvido.
Segurei-me para não virar e beija-lo, estava sendo
uma idiota agindo desta forma.
Porque não
conseguia correr, tira-lo de vez da minha vida? Porque queria dizer que também
o amava?
Eram tantos porquês que já estava tonta, vulnerável
e morrendo de medo.
Senti seus braços fortes me enlaçando em um abraço
apertado. Um frio percorreu meu corpo fazendo-me arrepiar.
- Eu não vou deixa-la. – avisou ainda agarrado a mim
– Preciso de você Manoela, muito mais do que imagina. Estou completamente
rendido a você!
- Então me explica. – virei-me rapidamente me
soltando de seus braços. - Porque ficou comigo durante esses meses fingindo ser
uma pessoa que não é? Porque deixou que me apaixonasse? Porque não falou a
verdade? Porque é tão misterioso? Porque está doendo tanto? – esbravejei
sentindo as lágrimas rolando pelo meu rosto. – Porque tem que ser assim?
- Não sei explicar, só sei que quanto estou com você
sou um homem melhor. – confessou segurando meu rosto – Sei que me apaixonei...
que preciso de você e que não consigo ficar longe. Perdoe-me por ama-la e
faze-la sofrer por isto.
- Vou esquecê-lo, não podemos mais ficar juntos. – afirmei
desesperada.
- Podemos sim.
- Não tem jeito Enzo...
- Vamos encontrar uma maneira. – disse pegando em
minhas mãos.
- Você é casado. Não posso fazer isto. Vá embora,
por favor. E não me procure mais. – supliquei fechando os olhos e rezando para
que ele fosse.
- Amo você, não ela. Este casamento é somente de
aparências, nosso tempo juntos está contato, não posso me divorciar agora por questões
puramente financeiras e profissionais, mas não ira demora muito. – explicou –
Não faça isso com nós.
- Precisa me esquecer. Não posso ser sua amante. –
avisei desesperada. – Deve respeita-la e não sei se acredito em suas
palavras...
- Precisa confiar em mim. Não posso ficar longe de
você garota, te amo!
O mundo de repente parou, fui resgatada do buraco
onde estava, sentir-me viva e feliz novamente por alguns minutos, quando suas
mãos me puxaram e seus lábios me beijaram. Um beijo diferente de todos antes,
lento e delicado parecendo suplicar para que ficássemos juntos.
- Não posso. – afirmei interrompendo o beijo e me
afastando – Deveria ter me dito a verdade quando nós conhecemos, agora é tarde.
- Quando me aproximei de você queria apenas sexo. –
confessou se aproximando novamente e tocando meu rosto com carinho – Não
planejava me apaixonar. Você fez o impossível, o que outras mulheres antes não
conseguiram... Tocar meu coração.
Fechei meus olhos, podia ouvir o som da minha
respiração inconstante, meu desespero. Senti meu corpo tremer, suas palavras
estavam me devastando por dentro.
Porque não
conseguia resistir a ele? Estava frágil e vulneral.
- Sou seu, garota. – afirmou olhando em meus olhos e
beijando-me fortemente.
Tudo estava girando. Ouvi um clique dentro de mim,
como se abrisse meu coração. Pertencia a ele, não conseguia mais lutar.
A urgência de nossos corpos a necessidade de nossas
almas... Rapidamente saímos do parque e estávamos no seu apartamento, nossas
roupas em instantes foram espalhadas pelo chão e eu me vi presa entre seu tórax
quente e a parede gelada. Suas mãos puxando fortemente meus cabelos, seus
lábios macios e úmidos devorando ferozmente os meus, suas mãos apertando-me a
pele com força e segurando minha coxa levantada, nossos corpos suados, nossa
respiração ofegante e inconstante, nosso ritmo e encaixe perfeito... Estávamos
obcecados um pelo outro. Fizemos amor de uma forma diferente das outras,
desesperado, urgente, único.
Estava entregue a ele e assim queria permanecer.
Ficamos em silêncios deitados por horas, eu tinha
medo de falar e de ouvir, só queria ficar ali, quieta em seu peito sentindo seu
perfume que me embriagava. Estava sentindo-me completamente perdida sem saber o
que fazer, seguir meu coração ou minha consciência? A razão ou a emoção? Era
uma pergunta difícil de responder e eu temia a resposta que iria dar caso ele
perguntasse novamente, se queria ficar ao seu lado. Sentimentos e
relacionamentos são mesmo confusos não dá para medir o que se é capaz de fazer
quando amamos de verdade, quando o coração fala mais alto.
Qual o limite? Até onde se pode ir?
Mesmo contra todos os princípios que acreditava,
mesmo que isso fosse errado, sabia minha resposta, o que queria... era
continuar ali no aconchego daquele peito quente, onde me entreguei ao sono e adormeci.
- Bom dia. – disse ele acordando-me com um beijo
delicado, um largo sorriso no rosto e uma bandeja de café da manhã nas mãos.
Não pude deixar de sonhar com aquela cena todas as
manhãs.
- Bom dia. – respondi sentando-me na cama e sorrindo
de volta – Como vai ser agora? – perguntei desinquieta.
- Assim quase todos os dias. – respondeu sentando-se
também.
- Falo sério.
- Eu também. – afirmou ainda sorrindo.
- Enzo, você é casado. – indaguei triste.
- Mas pertenço a você. Eu e a Barbara não somos um
casal, na verdade nunca fomos. Fico muito mais neste apartamento do que naquela
mansão. – explicou - Trabalhamos juntos, vamos passamos a maior parte do tempo
juntos, vai dar tudo certo. Confie em mim.
- Não era isso que queria para nós, não era isso que
queria para minha vida, Enzo. – confessei tristemente. – Não imagina o conflito
em minha mente entre meus princípios morais e meus sentimentos por você.
Sinto-me como uma destruidora de lares. – disse chorando.
- Manoela, acredite nunca houve um lar entre eu e Ela.
– afirmou segurando firme minha mão - Sei como se senti, também não quero isto
para nós. – disse acariciando meus cabelos emaranhados – E prometo que nossa
situação vai mudar mais rápido do que imagina.
- Por favor. – pedi e ele me respondeu com um beijo.
Passamos aquele dia juntos sem sair daquele apartamento,
foi tudo perfeito até o momento em que seu celular fez a realidade despencar
sobre nossas cabeças.