sexta-feira, 31 de julho de 2015

Livro, De olhos Fechados - Capitulo IV

________________________________________________________CAPÍTULO IV

Ele.

Sozinho em minha sala olhava fixamente a cidade abaixo dos meus pés e ela realmente estava nesta situação. As lembranças vinham a minha mente, nunca quis nada daquilo sempre tentei me esquivar desta vida obscura...
Em um dia Chuvoso vi pela primeira vez Lorenzo, o único homem que conheci como pai, agir friamente contra a vida de alguém que o desafiou, mediante minha reação de fraqueza socou meu rosto fortemente me jogando ao chão e ordenou que me comportasse como um Barbieri. Naquele dia me contou a verdade sobre os negócios da família, sobre a rede, minhas responsabilidades neles e que tinha a obrigação de trabalhar para ele e ser fiel como gratidão pelo que tinha feito por mim.
Aos oito anos de idade conheci Lorenzo Barbieri. Quando ele passou por mim na rua, roubei sua carteira e ele sorriu da minha tolice, por tê-lo enfrentado, negando o feito e o desafiado. Mal sabia onde estava me metendo... No mesmo instante, levou-me para seu escritório onde gostou do meu temperamento difícil e ao invés de me castigar deu-me um emprego, uma casa e uma chance de sair das ruas. Identifiquei-me rapidamente com seu mundo, me tornando excelente no que fazia e o enchendo de orgulho.
Quando completei dez anos de idade deu-me seu sobrenome, luxos e conhecimentos. Daquele dia em diante me tornei seu filho, seu braço direito o acompanhando onde quer que fosse e então não tive mais um minuto de paz, fiz tudo que ordenou até coisas que corromperam minha alma e me jogaram no inferno... Testou-me até o limite me transformando em um homem frio, sem sentimentos ou escrúpulos.
Seus filhos legítimos só lhe trouxeram desgosto e então me tornou seu sucessor nos seus negócios contrariando a todos. Escolheu minha faculdade, cada passo da minha vida... Fez de mim sua copia fiel. Casou-me com sua filha, me tornando parte da família, era o único modo de ficar a frente de tudo quando ele faltasse sem que ninguém pudesse me tirar do poder até que todos seus planos fossem concluídos. Agora estava sujo dessa lama até meu último fio de cabelo.
Poder e dinheiro eram as palavras que resumiam minha vida, no auge dos meus trinta e oito anos de idade havia vivido emoções que a maioria das pessoas jamais sonhariam em viver. Fiz coisas das quais não me orgulho e julgo-me por elas todas as noites, minha alma estava condenada...
Estava acostumado a ter tudo o que queria, como e quando queria, era exatamente assim que gostava da minha vida, pelo menos até aqui, pois pela primeira vez estava começando a pensar em outras coisas. Não podia negar que algo estava mudando dentro de mim.  Não tinha como evitar pensar nela, sua imagem veio a minha mente, seu corpo... Precisava encontrar uma forma de convencê-la a voltar para mim. Não seria fácil, mas tinha que fazer isso, era difícil admitir que estivesse sentindo sua falta. Estava ficando preocupado, ‘o feitiço não poderia virar-se contra o feiticeiro’, não podia me apaixonar, muito menos por aquela garota... Um dia Lorenzo avia me dito que:
“Quanto mais pessoas se ama mais fraco e vulnerável se torna o homem.”
- Senhor. – disse José entrando a sala e interrompendo meus pensamentos.
- Sim. – respondi sem me virar.
- Temos um problema. - aquelas palavras fizeram meu sangue subir, estava escutando-as muito ultimamente.
Agora não.  Minha mente gritava.
- O que houve? – perguntei agitado.
- Marcelo tentando aprontar das suas, está na sala de reuniões bastante nervoso. – explicou abrindo a porta para que saíssemos.
Aquele moleque já havia causado tantos problemas que seu pai quase o deserdou. Irresponsável, inconsequente, eu não o suportava.
- O que está acontecendo? O que faz aqui Marcelo? – perguntei chegando à sala de reuniões.
- Tentando tomar frente do negocio que é meu por direito. – respondeu nervoso jogando vários papeis que estavam espalhados sobre mesa no chão.
- Mais que merda é essa, o que está fazendo com estes documentos? – gritei vendo a bagunça na sala. - Não tenho que lhe lembrar de quem manda aqui. – esbravejei furioso com a petulância dele.
- O Marcelo tentou convencer Paolo e os Russos a lhe tirar do comando, até marcou uma reunião com a rede, mas não deu muito certo. – explicou Andrey serio - Também estava à procura de algum documento que pudesse lhe comprometer de alguma forma, chegou a queimar alguns papeis.
- Sabe a dor de cabeça que isso vai me causar? – perguntei chegando perto do Marcelo. Minha face estava destorcida pela ira. – Você não passa de um moleque inconsequente, seu pai estava certo, não serve para isto.
- Muito cuidado Enzo. – o avisou sério – Eu sou filho legitimo e posso conseguir uma forma de te derrubar, você não tem direito a nada. Somente o sangue importa!
- Vai tentando moleque. – instiguei – Mas por enquanto quem manda sou eu! E você vai me obedecer se quiser ficar no Brasil, caso contrário amanhã mesmo estará no Japão ou em uma vala por ai. – ameacei. – E confesso que vou sentir muito prazer em fazer isto.
- Não vai ficar assim. – gritou agitado – Você vai cair!
- Pode tentar. – disse serio – José avise a todos que quero uma reunião urgente. Amanhã na primeira hora – concluí virando as costas e saindo. Precisava controlar minha gana de mata-lo.
Enquanto dirigia acelerei o máximo sem muita prudência, tentando colocar minha raiva para fora. O Marcelo sempre me causava problemas, não poderia deixa-lo correr sem rédeas, precisava cortar suas asas o mais rápido possível... Minha mente estava para explodir, minha cabeça doía e tudo que queria era descansar, esquecer os problemas da empresa, da família, até porque agora tinha outro problema, um bem mais gostoso de resolver: Manoela.
Ela era algo em que valia a pena gastar energias.
Liguei varias vezes para o seu telefone, mas ela se recusava em me atender. O que só estava deixando-me mais tenso, então resolvi ir para casa, precisava de um bom banho para relaxar e clarear minha mente.
 - Que bom que chegou, estava lhe esperando. – começou Barbara cercando-me na porta do quarto.
Imediatamente me arrependi de não ter ido para o meu apartamento, era o único lugar onde realmente tinha algum tipo de paz.
- O que deseja. - disse secamente não parando para lhe dar atenção.
- Problemas no paraíso? Parece tenso. – A pergunta me faz parar, fazia tempo que não ouvia essa frase e tentava não pensar nela.
- Não! – respondi entrando.
- Saudades. – confessou me abraçando por trás. – Faz muito tempo que não me procura, só ficamos juntos uma vez depois que voltou daquela conferencia e isto já tem mais de três meses.
- Estou ocupado. – respondi me soltando do abraço.
Não estava com cabeça e nem um pouco interessado nela.
- Isto nunca foi motivo. – indagou seria se aproximando novamente.
- Não estou em um bom dia. – avisei. – Então me deixe em paz.
- Deixe-me ajuda-lo a relaxar. – disse tirando minha camisa e acariciando meu peito.
Sua insistência, só estava deixando-me mais tenso.
- Por favor, deixe-me. – pedi me afastando.
- Tem outra mulher Enzo?
- Claro que não, você me sufoca o suficiente sozinha.
- Sempre teve seus casinhos sei disto, mas tem algo diferente em você. – disse sentando-se a cama – Todos os finais de semana está viajando, passa varia s noites fora sem nenhuma justificativa. Quem é ela desta vez? Uma secretária, uma atriz... outra modelo? – indagou com raiva no olhar.
- Ela quem? Não seja paranoica!
- Então porque está me evitando?
Eu precisava tomar mais cuidado, não poderia colocar a Manoela em perigo, pois ela era a minha salvação.
- Barbara, sabe muito bem que seu pai me deixou uma bomba. – respondi tentando mudar o assunto. – Está tudo uma bagunça.
- Meu irmão poderia lhe ajudar, basta você deixar de ser egoísta e dividir os negócios com ele, afinal são tantos. – disse se levantando e vindo até mim – Quero te fazer relaxar. – confessou tirando suas roupas devagar depois as jogando ao chão.
- Seu irmão é um dos meus problemas. – confessei serio analisando seu corpo nu.
- Esqueça ele... Esqueça tudo. – orientou sorrindo com malícia.
Suas mãos começaram a acariciar meu tórax, seu lábios a beijar meu pescoço, sabia exatamente o que ela queria de mim. Era muito atraente, sex, éramos bons juntos, mas não estava interessado, minha cabeça estava na Manoela. O que me deixava mais tenso ainda.
- Me deixe descansar. – pedi saindo em direção ao banheiro – Vou tomar banho, dormir e não quero ser amolado.
O outro dia não seria nada fácil e precisaria de todas minhas forças para enfrenta-lo. Ela me fez lembrar todos os problemas que tinha que resolver, precisava voltar à ativa o mais rápido possível, pois a bomba estava quase para explodir e a minha cabeça era o alvo.
***
Enquanto esperava todos chegarem para a reunião meus pensamentos estavam fixos nela, Manoela. Em seu rosto delicado, na falta que estava sentindo, na culpa por tê-la enganado. Parecia estar apaixonado, não devia, mas tinha que admitir que estava mais envolvido do que o esperado e que dizer eu te amo não iria requerer muito sacrifício. 
Está ficando louco, pare de pensar nesta garota, Enzo. Afirmei a mim mesmo.
- Estão todos te esperando. – avisou José entrando a minha sala.
- Claro. – respondi soltando meu copo de Uísque e saindo em direção à sala de reuniões.
Rever aqueles rostos que há muito tempo não via, levou-me de volta no tempo, na primeira vez que fui apresentado a eles. Senti medo e nada deram por mim tratando-me muito mal, sem nenhum respeito, riram e mandara-me embora. Um garoto de rua, sem nome, sem linhagem de sangue nobre, nunca seria parte daquele império, agora estava à frente de seus interesses e todos tinham medo de mim.
Sou fã das voltas que o mundo dá. Não tive como evitar o sorriso em pensar nisto.
- Bom dia, senhores. – cumprimentei me sentando a cabeceira da mesa – Não posso dizer que estou exatamente feliz em vê-los. Há muito tempo não nos reunimos e esta reunião não nos trás nada de bom, lamento a perda de nosso Lorenzo, mas os negócios continuam. – fiz uma breve pausa em sua memoria.
- Como sabem ele deixou-me no comando por um prazo de um ano até seu filho mais velho estar preparado para assumir ou até algum Barbieri me passar o comando de forma definitiva, porém nosso querido Marcelo Barbieri está reivindicando a presidência. – expliquei vendo o consentimento de todos.
- Como é nosso costume o filho mais velho assumir quero o meu lugar de direito o quanto antes, até porque nenhum Barbieri irá passar o comando de forma definitiva para este mendigo. - Exigiu Marcelo praticamente me interrompendo. – Sou um Barbieri legitimo não posso ficar em segundo plano e nossas tradições não devem ser mudadas.
- A vontade de seu pai deve ser respeitada, vamos aguardar o final do ano. Depois veremos como as coisas iram ficar. – orientou senhor Caprielli serio como sempre.
Ele havia sido por muitos anos o melhor amigo e conselheiro do Lorenzo. Ambos nasceram e foram criados na mesma região da Itália.
- Mas... – insistiu Marcelo tenso. – Ele não é um Barbieri legitimo. Não tem direito.
- Já basta Marcelo, sabemos toda sua ladainha. O Enzo, pode não ser um Italiano, um Barbieri, mas foi aceito como tal e era o braço direito de seu pai, já está no comando a mais de oito anos. – explicou Caprielli interrompendo Marcelo. - É a pessoa mais capacitada para tal posição. Além do mais era a vontade do Don Lorenzo e seu tio Don Paolo também concorda, estive em reunião com ele na ultima semana.
- Para nós nada precisa mudar, confiamos no Enzo. – avisou Dmitri Mikhailov, representante da Bratva no Brasil. – Não me importo com essa história de sangue, para nós o que importa é a competência.
- Também penso que nada precisa mudar. - Concordou Ruan Rodriguez, da Colômbia.
- Somente esses reboliços e conversinhas precisam parar, apenas estão nos prejudicando e expondo. Somos homens de negócios devemos honra nossa palavra. – continuou Caprielli.
Todos pareciam concordar o que me deixava muito satisfeito.
- Se estamos de acordo que nada muda em nossa rede, peço licença, pois tenho trabalho a me esperar – conclui cumprimentando a todos e saindo da sala.
Meu sorriso de satisfação era imenso todas as tentativas do Marcelo de me retirar do poder foram barradas pelos membros da rede. A reunião não poderia ter sido melhor, eu tinha o prazo necessário para cumprir a ultima vontade do Lorenzo e meu plano estava seguro. Só tinha uma coisa que me preocupava agora; Ela, precisava encontrar uma forma pra que me perdoasse, voltasse para mim e assim poder prosseguir com meu plano.
- Como ela está? – perguntei atendendo ao telefone – Imagino. Fique de olho nela – orientei desligando o telefone e afundando em minha cadeira.
Não estava conseguindo tira-la da minha mente.
- Senhor... – disse José entrando.
- Sim. – respondi virando para ele.
- As escutas estão todas prontas, conforme solicitou. – avisou sentando.
- Ótimo. Preciso monitorar cada passo que deles. – falei pensativo.
- E o que vamos fazer com as câmeras que eles colocaram em seu escritório de casa?
- Deixe-as onde estão. – respondi me servindo um uísque.
- Desconfia de quem seria o traidor? – perguntou serio.
- Sei quem é – afirmei sorrindo com confiança - José nada acontece sem que eu saiba. – disse bebendo um gole do Uísque em meu copo – Só preciso esperar o momento certo para colocar minhas cartas na mesa. Este é um jogo perigoso, mas eu sou mais.
- O senhor é o melhor jogador. – elogiou com sinceridade.
José era um bom soldado e um amigo legal.
 - Desculpe a intromissão, mas como vão as coisas com aquele plano? – indagou curioso.
- Tivemos uns probleminhas, mas estou saindo agora para resolve-los. – confessei levantando. – Tudo conforme o esperado.
Precisava ir atrás dela.

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Ela

Minhas mãos tremiam, meu coração batia acelerado, podia ouvir minha respiração ofegante, deixei-me escorregar vagarosamente encostada a porta até sentar no chão frio da sala. Sua voz me chamando era mais doloroso do que imaginava, sabia que logo ele viria falar comigo, mas não estava pronta para abrir a porta.
As lagrimas começaram a molhar o piso e meu desespero ficar nítido para ele do outro lado.
Não era para ser assim!
- Por favor, Manoela. Preciso falar com você. – pediu – Não quis lhe magoar, posso explicar. Deixe-me entrar.
Suas palavras entravam como facas em meu peito, queria muito vê-lo, toca-lo, mas não podia deixar que tomasse mais conta do meu ser, do que já tinha conseguido.
- Me perdoe, sinto sua falta. – confessou.
Eu soluçava de desespero.
- Preciso de você... Manoela, por favor!
- Vá embora. Acabou... - saiu como um gemido, foi a única coisa que consegui disser. – Vá embora Enzo.
- Não! Vou ficar aqui até abrir a porta. – avisou – Eu quero você, preciso de você... Te amo.
Essas eram palavras que há dias atrás teriam me feito à mulher mais feliz do mundo, mas agora só me fazia à pessoa mais confusa e machucada. Conseguia ouvir sua respiração, sentir seu cheiro. Coloquei minha mão na porta, queria senti-lo, a proximidade me fazia quere-lo e isso fazia com que me odiasse.
- Deixei-me explicar...
- Não há nada para explicar, você teve três meses para isto e deixou que descobrisse da pior forma possível, me enganou, mentiu... Agora não ouço suas palavras, elas perderam valor. – quase gritei interrompendo-o.
Queria desaparecer.
- Não é o que está pensando.
Eu ri, ele era um canalha.
- É exatamente o que estou pensando. Você é casado e estava apenas se divertindo comigo durante esses meses.
Meu coração estava em pedaços, quase não conseguia acreditar.
- É bem mais complicado do que isto e você nunca foi uma diversão. – afirmou – Posso explicar, deixe-me entrar – insistia. – Vamos começar de novo.
- Agora é tarde. Não vou deixa-lo entrar nunca mais em minha vida. – avisei tensa.
Estava determinada em esquecê-lo, em tira-lo de uma vez do meu peito.
- Vou lhe explicar tudo, contar minha história. – disse também se sentando no chão.
Naquele chão frio passamos horas... As coisas que ele me contou me deixaram atordoada, confusa e com medo, jamais poderia imaginar tudo aquilo apenas olhando para ele, seu passado, seu sofrimento e sua frieza eram demais para mim. Mas não sabia se acreditava naquelas palavras, parecia tão surreal. Um menino de rua adotado por um homem muito poderoso, uma família fechada e tradicional, seu tempo na Itália, um casamento sem amor para ter poder, não parecia ser verdade, algo não estava encaixando.
- Você é meu sopro de vida. - confessou – Preciso de você.
Nada daquilo era suficiente para tirar do meu peito a dor que o tinha invadido.
- Me deixe entrar, precisamos conversar... Olhe em meus olhos e saberá que digo a verdade.
Eu estava petrificada ouvindo suas palavras. Meu corpo estava frio.
- Vamos continuar de onde paramos. – insistiu.
Minhas lagrimas voltaram a rolar, minha cabeça doía muito. Balançava a cabeça de desespero...
Porque comigo?
- Desculpe por omitir que era casado. Estou sendo totalmente honesto com você agora.
Porque não me contou quando nós conhecemos? Porque não foi honesto desde o começo? Tive vontade de soca-lo, agora era tarde demais.
- Me perdoa?
A pergunta me fez chorar ainda mais, pois queria dizer que sim. Estava em conflito, minha mente gritava dizendo que tinha que correr para bem longe dele e meu coração me mandava abrir a porta e deixa-lo entrar de vez na minha vida.
- Preciso de um tempo sozinha para pensar. – avisei – Vá embora, por favor. – supliquei.
- Não! Vou ficar aqui. – avisou. – Preciso toca-la.
Ouvindo aquelas palavras meu corpo se arrepiou, queria sentir novamente seu toque quente, minha alma ansiava por ele, mesmo sendo completamente errado e proibido.
- Enzo, por favor, vá embora. – implorei e pude ouvir sua respiração pesada enquanto se levantava e saia.
Deixe-me cair de vez no chão e permaneci ali deitada por horas, pensando nas palavras que ouvi. Somente quando Elisa chegou que fui para o sofá de onde também me recusava a sair.
Onde eu tinha me metido?
Essa era a pergunta que minha mente repetia inúmeras vezes na vã tentativa de obter algum tipo de resposta.
O coração sempre foi um território onde não podemos andar ou mandar, mas o meu estava sendo o mais tolo dos tolos, por insistir em amar um homem casado, cheio de segredos e com uma vida complicadíssima.
Porque tinha que ser assim? Não poderia ter me apaixonado por um homem comum e solteiro?!
***
O vento balançava as folhas das arvores, a água do lago movia-se lentamente. Sentada na grama do parque Ibirapuera, meditando, abraçada com meu corpo, tentava não pensar, esquece-lo e consolar-me. Pude me sentir livre pela primeira vez naqueles últimos dias, era tudo que precisava: paz e ficar sozinha.
 Depois de muito chorar e sofrer trancada dentro de casa, não consegui chegar a lugar nenhum, então resolvi sair para respirar ar puro na tentativa de que esquece-lo e clarear minha mente. E definitivamente foi uma sabia decisão, mas meus únicos pensamentos continuavam a ser sobre deixar São Paulo e voltar para casa; Recife, a cidade que considerava meu lar, meu porto seguro, mesmo tendo vivido por pouco tempo nela. Nasci e fui criada no sul do país, quando estava com dezesseis anos de idade, meu pai foi transferido para trabalhar no nordeste e facilmente me apeguei, apaixonando-me completamente pelo lindo mar de águas azuis esverdeadas.
Estava tão confusa e triste, minha vida tinha virado completamente de ponta cabeça. Era um daqueles momentos em que tudo que se quer é voltar ao passado para evitar de cometer os mesmos erros. Desejava que existisse o Ctrl Z em minha vida, que nunca o tivesse conhecido... Que pudesse esquecê-lo.
Porque a vida precisa ser assim, triste e complicada?
Ansiava pelo abraço carinhoso e acolhedor de minha mãe, ela saberia me aconselhar e aliviar minha dor. Possuía esse dom, de sempre acalmar-me e me fazer sorrir.
- Manoela.
Foi um choque ouvir aquela voz e não tive coragem para me virar e enfrentar seu rosto.
Como ele me encontrou ali?
- Sinto sua falta. – continuou chegando bem perto, que podia sentir seu perfume e o calor de seu corpo.
- Por favor, vá embora! – pedi me levantando do chão, mas ainda de costas para ele, suplicando para que as minhas lagrimas não caíssem.
Ele tocou levemente meus ombros encostando mais ainda nossos corpos, queria correr, mas estava paralisada.
- Sei que te magoei, não foi minha intenção, mas também não tive a intenção de me apaixonar por você. – contou junto ao meu ouvido.
Segurei-me para não virar e beija-lo, estava sendo uma idiota agindo desta forma.
Porque não conseguia correr, tira-lo de vez da minha vida? Porque queria dizer que também o amava?
Eram tantos porquês que já estava tonta, vulnerável e morrendo de medo.
Senti seus braços fortes me enlaçando em um abraço apertado. Um frio percorreu meu corpo fazendo-me arrepiar.
- Eu não vou deixa-la. – avisou ainda agarrado a mim – Preciso de você Manoela, muito mais do que imagina. Estou completamente rendido a você!
- Então me explica. – virei-me rapidamente me soltando de seus braços. - Porque ficou comigo durante esses meses fingindo ser uma pessoa que não é? Porque deixou que me apaixonasse? Porque não falou a verdade? Porque é tão misterioso? Porque está doendo tanto? – esbravejei sentindo as lágrimas rolando pelo meu rosto. – Porque tem que ser assim?
- Não sei explicar, só sei que quanto estou com você sou um homem melhor. – confessou segurando meu rosto – Sei que me apaixonei... que preciso de você e que não consigo ficar longe. Perdoe-me por ama-la e faze-la sofrer por isto.
- Vou esquecê-lo, não podemos mais ficar juntos. – afirmei desesperada.
- Podemos sim.
- Não tem jeito Enzo...
- Vamos encontrar uma maneira. – disse pegando em minhas mãos.
- Você é casado. Não posso fazer isto. Vá embora, por favor. E não me procure mais. – supliquei fechando os olhos e rezando para que ele fosse.
- Amo você, não ela. Este casamento é somente de aparências, nosso tempo juntos está contato, não posso me divorciar agora por questões puramente financeiras e profissionais, mas não ira demora muito. – explicou – Não faça isso com nós.
- Precisa me esquecer. Não posso ser sua amante. – avisei desesperada. – Deve respeita-la e não sei se acredito em suas palavras...
- Precisa confiar em mim. Não posso ficar longe de você garota, te amo!
O mundo de repente parou, fui resgatada do buraco onde estava, sentir-me viva e feliz novamente por alguns minutos, quando suas mãos me puxaram e seus lábios me beijaram. Um beijo diferente de todos antes, lento e delicado parecendo suplicar para que ficássemos juntos.
- Não posso. – afirmei interrompendo o beijo e me afastando – Deveria ter me dito a verdade quando nós conhecemos, agora é tarde.
- Quando me aproximei de você queria apenas sexo. – confessou se aproximando novamente e tocando meu rosto com carinho – Não planejava me apaixonar. Você fez o impossível, o que outras mulheres antes não conseguiram... Tocar meu coração.
Fechei meus olhos, podia ouvir o som da minha respiração inconstante, meu desespero. Senti meu corpo tremer, suas palavras estavam me devastando por dentro.
Porque não conseguia resistir a ele? Estava frágil e vulneral.
- Sou seu, garota. – afirmou olhando em meus olhos e beijando-me fortemente.
Tudo estava girando. Ouvi um clique dentro de mim, como se abrisse meu coração. Pertencia a ele, não conseguia mais lutar.
A urgência de nossos corpos a necessidade de nossas almas... Rapidamente saímos do parque e estávamos no seu apartamento, nossas roupas em instantes foram espalhadas pelo chão e eu me vi presa entre seu tórax quente e a parede gelada. Suas mãos puxando fortemente meus cabelos, seus lábios macios e úmidos devorando ferozmente os meus, suas mãos apertando-me a pele com força e segurando minha coxa levantada, nossos corpos suados, nossa respiração ofegante e inconstante, nosso ritmo e encaixe perfeito... Estávamos obcecados um pelo outro. Fizemos amor de uma forma diferente das outras, desesperado, urgente, único.
Estava entregue a ele e assim queria permanecer.
Ficamos em silêncios deitados por horas, eu tinha medo de falar e de ouvir, só queria ficar ali, quieta em seu peito sentindo seu perfume que me embriagava. Estava sentindo-me completamente perdida sem saber o que fazer, seguir meu coração ou minha consciência? A razão ou a emoção? Era uma pergunta difícil de responder e eu temia a resposta que iria dar caso ele perguntasse novamente, se queria ficar ao seu lado. Sentimentos e relacionamentos são mesmo confusos não dá para medir o que se é capaz de fazer quando amamos de verdade, quando o coração fala mais alto.
Qual o limite? Até onde se pode ir?
Mesmo contra todos os princípios que acreditava, mesmo que isso fosse errado, sabia minha resposta, o que queria... era continuar ali no aconchego daquele peito quente, onde me entreguei ao sono e adormeci.
- Bom dia. – disse ele acordando-me com um beijo delicado, um largo sorriso no rosto e uma bandeja de café da manhã nas mãos.
Não pude deixar de sonhar com aquela cena todas as manhãs.
- Bom dia. – respondi sentando-me na cama e sorrindo de volta – Como vai ser agora? – perguntei desinquieta.
- Assim quase todos os dias. – respondeu sentando-se também.
- Falo sério.
- Eu também. – afirmou ainda sorrindo.
- Enzo, você é casado. – indaguei triste.
- Mas pertenço a você. Eu e a Barbara não somos um casal, na verdade nunca fomos. Fico muito mais neste apartamento do que naquela mansão. – explicou - Trabalhamos juntos, vamos passamos a maior parte do tempo juntos, vai dar tudo certo. Confie em mim.
- Não era isso que queria para nós, não era isso que queria para minha vida, Enzo. – confessei tristemente. – Não imagina o conflito em minha mente entre meus princípios morais e meus sentimentos por você. Sinto-me como uma destruidora de lares. – disse chorando.
- Manoela, acredite nunca houve um lar entre eu e Ela. – afirmou segurando firme minha mão - Sei como se senti, também não quero isto para nós. – disse acariciando meus cabelos emaranhados – E prometo que nossa situação vai mudar mais rápido do que imagina.
- Por favor. – pedi e ele me respondeu com um beijo.

Passamos aquele dia juntos sem sair daquele apartamento, foi tudo perfeito até o momento em que seu celular fez a realidade despencar sobre nossas cabeças.

Livro, De Olhos Fechados - Capítulo III

_____________________________________________________CAPÍTULO III

Três meses depois.
Ela.

Estava me sentindo meio zonza, ouvia pessoas gritando nervosas, buzinas de carro e sentia um cheiro forte. Fechei meus olhos para tentar concentrar-me, mas foi em vão, o caos deixava-me tensa. São Paulo estava sendo uma experiência totalmente nova para mim, principalmente pela grosseria dos motoristas impacientes uns com os outros. Voltar à rotina normal da minha vida, depois de umas merecidas e longas férias não estava sendo tarefa fácil, especialmente em uma cidade nova, mas estava me esforçando ao máximo, até porque estava desesperada em encontrar um trabalho na minha área. As promessas ali estavam melhores, além do beneficio de ficar na mesma cidade que o Enzo, tinha que arriscar... Crescer profissionalmente dependida exclusivamente de mim, já na área sentimental dependia dele.
O apartamento era um charme, pequeno, aconchegante e chegar nele foi um verdadeiro alivio para minha sanidade mental.
- Oi Elisa – falei alegremente atendendo ao celular, sentada no sofá que ficou ao lado da janela. A vista era significantemente bonita. – Que bom que amanha você chega – comentei sorrindo – Assim tenho certeza que não vou enlouquecer sozinha.
O telefonema foi reconfortante, esta me sentindo abandonada naquele momento. Havia mandado mensagens para o Enzo avisando que tinha me mudado e não obtive nenhuma resposta, ligado em seu celular que deu fora de área. O que estava me deixando ansiosa, confusa e triste. Mas não poderia me influenciar por isto, estava ali por mim e não por ele. Também tinha o fato de ter escondido que iria me mudar até tudo estar totalmente concluído e faziam apenas cinco dias que não nos víamos.
Os últimos meses passaram como um sonho. Todos os fins de semana ele viajava para Recife e ficávamos juntos, estava completamente envolvida por seu charme e rendida aos seus carinhos... Suspeitava que estivesse apaixonada.
Fiquei quieta no sofá por horas, com preguiça de sair. Meu pai havia sido muito cuidadoso em montar aquele apartamento para mim, claro que iria pagar cada centavo para ele um dia. Naquele momento me veio uma imensa falta da minha mãe, seus conselhos, seu carinho...
- Ah – saiu um gemido da minha garganta quando ouvi as batidas na porta – Que... já estou indo. – conclui levantando-me rapidamente.
- Que rosto horrível, um caminhão te atropelou? – perguntou Elisa me observando e sorrindo quando abri a porta.
- Não! Dormir no sofá mesmo. – respondi enquanto ela entrava com suas malas.
- Você está péssima lembrando muito um pano de chão. – analisou seria.
Eu não pude conter o riso, como era bom ter ela junto a mim. Minha melhor amiga desde sempre. Então a abracei fortemente.
- É muito bom ter você aqui. – confessei – Vou tomar banho, você se acomoda. – conclui saindo.
Durante o banho fiquei pensando no Enzo, em uma forma de encontra-lo. Queria ir até seu escritório, mas não sabia se devia. Estava com saudade e preocupada.
Porque ele não respondeu minhas mensagens ou me ligou? Estava começando a enlouquecer.
Pare com isto Manoela! Ordenei.
Tinha que me concentrar em procurar um emprego, precisava me fixar e crescer profissionalmente. Realizar meus objetivos.
- Manu – gritou Elisa entrando no meu quarto – tem alguém querendo te ver e tenho certeza que vai amar a visita – avisou sorrindo e piscando para mim – vou dar uma volta, conhecer a região, comprar comida. Quando ele for embora você me liga que eu volto – concluiu já saindo.
Analisei-me no espelho, cabelos molhados, enrolada de toalha... Parecia promissora a visita, não consegui evitar o sorriso.
- Oi – disse chegando à sala – Demorou... – murmurei mordendo os lábios.
- Vim assim que pude. - respondeu sorrindo - Sua mensagem me surpreendeu, porque não me avisou que estava se mudando para São Paulo? Teria organizado tudo para você – avisou chegando perto e olhando-me cuidadosamente – Sabe que está me provocando... – instigou com aquele sorriso no canto do lábio que tanto me cativou.
- Não quis incomoda-lo com a mudança, foi tudo muito repentino e quanto à provocação... Não sabia que viria agora, não foi minha intenção. – expliquei rapidamente sorrindo com malícia.
A proximidade de nossos corpos e minha ansiedade me deu frio na barriga.
- Senti saudade – confessou passando a mão nos meus ombros expostos – Quero te beijar... – disse já bem próximo aos meus lábios, com a mão ainda em meu ombro.
Não perdi mais tempo, puxei seu rosto e o beijei, fui mais atrevida do que esperava. Ele apertou seu corpo contra o meu e pude sentir seu desejo. Suas mãos começaram a me acariciar ainda coberta pela toalha, os beijos fora ficando mais urgentes... Uma onde de calor me percorreu, senti como se fosse derreter. Então me soltou, jogou minha toalha longe e olhou-me por uns instantes como se analisasse o que via. Sorriu maliciosamente despindo-se devagar, fazendo com que o ar sumisse para mim, seu corpo parecia desenhado, era perfeito...
Puxou-me mais uma vez e me colocou sentada em seu colo no sofá. O toque de suas mãos firmes e quentes em minha pele nua e fria me fez arrepiar, seu beijo urgente e delicioso, o cheiro que me embriagava. Seus lábios me percorrendo por completa fazia-me queimar por dentro... Minhas mãos apertando sua pele... o desejo... Estava enlouquecendo...  E então eu me entreguei ali mesmo no sofá da sala. Seu ritmo perfeito me levou lentamente ao paraíso varias vezes, ondas e ondas de emoções me invadiam. O encaixe era perfeito, parecia surreal, não queria que aquele momento terminasse nunca e quando terminou permaneci deitada em seu peito de onde não pretendia sair.
 Passamos o restante da manhã daquela forma, deitados no sofá, agarrados nos amando e conversando. Foi em seus braços que me rendi ao meu próprio medo e confessei a mim silenciosamente que estava apaixonada por ele, que o queria em minha vida e que tinha medo de perdê-lo de uma forma que fazia meu estômago gelar.
Como pude me envolver e apaixonar tão rápido por alguém que mal conheço? Não sabia quase nada sobre dele, onde estava me metendo e no que iria dar, mas valia a pena ariscar.
- O que estamos fazendo? – perguntei, minha mente estava lotada de duvidas. – Quero dizer... O que somos?
- Você quer uma definição? – retrucou.
- Sim...
- Não sou muito bom com este tipo de conversa... Mas já estamos a alguns meses juntos e gosto de estar com você. Tem gente que diria que somos um casal, namorados. – respondeu acariciando meu corpo.
- Acredita em amor a primeira vista, almas gemias, destino? – insisti confusa.
Ele estava virando meu mundo, destruindo minhas certezas, mudando minhas razões...
- À primeira vista existe apenas atração física, desejo. Quando a almas gemias e destino, gosto do som das palavras, fora isto não sei o que dizer sobre ela. – respondeu serio. – Não sei se acredito.
Eu não sabia explicar o porquê suas palavras tinham me deixado triste, também não acreditava em clichês.
- Então quando se aproximou foi apenas por desejo? – indaguei agitada.
- Claro, deixou-me bem interessado. Tanto que atravessei o país para conhecê-la melhor.
- E agora? – insisti, queria ouvir o que meu coração pedia.
- Estou começando a acreditar em amor a segunda vista – respondeu ainda me acariciando - Estou rendido a você garota. Muito mais do que imagina. – respondeu beijando-me levemente.
Como reflexo meu sorriso se abriu.
- Agora que me mudei, será mais fácil para nós vermos. – comentei.
Estava animada e não podia negar que também tinha me mudado para São Paulo para ficar perto dele. Estava completamente louca...
- Fiquei feliz por estar aqui, mas não gostei de ter me escondido sobre a mudança. Não faça isso novamente! – avisou serio. – Vou providenciar um apartamento melhor para você e um carro...
- Não quero nada disto! – interrompi seu raciocínio me sentando - Não me mudei para você me sustentar - já estava um tanto tensa – Não quero nada de você Enzo... apenas você! – expliquei olhando em seus olhos.
- Posso lhe proporcionar uma vida bem melhor e não vai me custar nada fazer isto...
- Sou independente há muito tempo e já lhe aviso que não vou aceitar nada. – disse interrompendo-o novamente. – Vim para São Paulo em busca de oportunidades.
Estava começando a me sentir ofendida.
- Você é uma garota teimosa. – comentou sorrindo e me fazendo deitar novamente em seu peito. – Sei que é independente, apenas posso lhe ajudar até conseguir um trabalho.
- Realmente não precisa, sei me virar. – avisei tentando acalmar.
- Como quiser. – concordou me beijando com carinho - Mas se precisar...
- Se precisar de algo será o primeiro a saber – disse sendo educada. – Obrigada.
- Não é isto que os namorados fazem?! – brincou - Tem planos para hoje? – perguntou levantando-se.
- Não, ainda estou desfazendo as malas. – comentei também me colocando de pé.
- Pensei em um jantar e em lhe apresentar meu apartamento. – sugeriu passando a mão em meus cabelos e terminando de se vestir.
- Claro. – confirmei animada.
Estar com ele era ótimo.
- Venho te buscar as 20:00hrs, agora preciso ir. – avisou beijando meus lábios com carinho e saindo.
Dizia a mim mesma para ir com calma, para não me animar muito, mas estava difícil de ouvir meus próprios conselhos. Elisa também tentou, assim que chegou, me orientar a não ir rápido demais, mas já era tarde, estava completamente apaixonada e entregue a ele. Mal o conhecia, não sabia quase nada a seu respeito, porém sentia-me totalmente a vontade ao seu lado, sentia que podia confiar-lhe até a minha vida.
Deve ser assim mesmo o amor, sem logica, sem explicação... só da para saber sentindo.
Passei a tarde toda arrumando o apartamento e tentando não imaginar como seria a noite, mas só de lembrar-me do toque quente de suas mãos, meu corpo se arrepiava e sentia um frio na barriga. Olhei por alguns instantes minha imagem refletida no espelho e fiquei satisfeita com o que via, havia perdido horas escolhendo as roupas e arrumando o cabelo, queria parecer elegante, sex e provocante, mas sem ser vulgar. Ficar a altura dele, que sempre estava impecável.
- Manu, ele chegou. – avisou Elisa sorrindo.
- Como estou? – perguntei agitada e ansiosa.
- Linda. – elogiou sorrindo - Aproveite a noite porque ela promete. – comentou piscando enquanto me observava sair.
Ele estava perfeito, com um de seus trenos pretos, encostado no carro, tinha no rosto um sorriso discreto, mas provocante. Pude sentir seu perfume de longe o que fez com que meu desejo aumentasse ainda mais.
- Está linda. – elogio quando me aproximei – Vamos – disse abrindo a porta do carro.
Durante todo o caminho percebi que seus olhos sempre estavam em mim e que apesar do silencio a atração entre nos estava a cada instante maior.
- Pensei que iriamos jantar. – indaguei vendo que ele estava entrando em um prédio de apartamentos.
- E vamos. Mesmo eu não estando com fome... – respondeu olhando-me com malicia – Pelo menos não de comida.
Aquele olhar fez-me senti um frio na barriga, estava ansiosa para estar novamente em meio aos seus braços.
- Bem vinda ao meu apartamento – avisou abrindo a porta para que eu entrasse.
Era imenso e muito lindo. A sala de estar toda decorada em couro e madeira, possuía um bar com todos os tipos de bebida, dela se tinha acesso a área externa e também podia se ver ao fundo a cozinha toda branca com muitos detalhes em vidro e um quarto enorme com uma cama bem no centro. Um apartamento tipicamente masculino, mas de muito bom gosto e elegância.
- Nossa. – disse quase sussurrando quando chegamos à área externa.
- Gostou?- perguntou sorrindo.
- Claro, não imaginei que fosse romântico. – afirmei ainda por acreditar no que meus olhos viam.
A área externa era tão grande quanto o apartamento, havia um imenso jardim, academia, área gourmet e uma piscina maravilhosa bem no centro, a qual estava cheia de pétalas de rosas e velas, próxima a ela uma mesa com uma bela refeição. Também tocava uma musica muito gostosa e envolvente.
- Não sei o que dizer. – balbuciei olhando para ele.
- Não diga... sinta. – disse se aproximando.
Passou a mão em meus ombros, levantou meu queixo e beijou-me com desejo. Não houve mais nada a ser dito, suas mãos fortes já estavam em mim. Beijou-me novamente enquanto me levantava e colocava sentada no balcão que estava próximo. O enlacei com as pernas e comecei a tirar sua camisa rapidamente sem interromper os beijos. Suas mãos exploravam meu corpo que tremia a cada toque.
- Ahhhhh – deixei um gemido escapar de meus lábios quando beijou meu pescoço e apertou minha coxa.
Parou uns instantes olhando para mim, pude ver o desejo nos olhos dele. Então me carregou novamente só que desta vez colocou-me na imensa cama, começou a despir-se revelando aquele corpo perfeito e cheio de tatuagens que me deixava sem ar, em seguida tirou meu vestido com cuidado, pude sentir o toque suave do tecido acariciando minha pele. Olhou-me novamente por alguns instantes e sorriu com malícia.
Com os lábios percorreu cada extremidade do meu corpo, começando pelos pés e foi subindo devagar, a cada beijo eu sucumbia mais a maluca paixão que ardia dentro de mim. Quando chegou a minha boca com um movimento rápido colocou-me em cima dele ambos sentados, puxou meu cabelo para trás e mordeu meu pescoço, fazendo com que sentisse um misto de dor e prazer, arranhei suas costas com força, beijei e apreciei cada centímetro dele. E quando já estava implorando, fez-me sua novamente... e novamente até meu corpo exausto não aguentar mais.
Eu estava completamente a sua mercê, vulnerável e enlouquecida de prazer. Já pertencia a ele.
- Com fome? – perguntou quando já estava terminando de se vestir.
- Devo admitir que sim – respondi sorrindo.
O restante da noite ele foi delicado e carinhoso, tudo estava perfeito. O apartamento era lindo e aconchegante, foi fácil adormecer na cama dele e principalmente ao lado dele.
- Enzo. – chamei confusa quando abri meus olhos e não o encontrei.
Levantei-me apresada e um tanto ainda tonta de sono.
Ele estava no jardim apenas de bermuda fazendo yoga. Seu corpo definido ficava ainda mais evidente enquanto executava de forma precisa os difíceis movimentos. Encostei-me a porta de vidro, observando-o por alguns minutos em silencio, analisei por completo seu lindo corpo e suas varias cicatrizes, algumas pareciam profundas...
- Bom dia – disse sorrindo e me olhando.
- Bom dia. – respondi passando a mão em meu cabelo.
- Com está se sentindo? – perguntou vindo em minha direção.
- Bem... Feliz.
- Não percebi que estava me olhando, faz muito tempo?
- O suficiente para ficar encantada, não sabia que fazia yoga. – comentei.
- Pratico vários tipos de exercícios, mas tenho apenas um preferido... – confessou beijando meus lábios e apertando minha pele fortemente.
Podia sentir o desejo percorrendo nossos corpos, ouvia faíscas. Quando estávamos juntos não havia controle...
 - Vamos dar um mergulho. – sugeriu sorrindo com malicia.
- Não trouxe meu biquíni. – avisei também sorrindo.
Tinha entendido perfeitamente o que ele pretendia.
- E quem disse que vamos usar roupas. – disse tirando a bermuda e ficando completamente nu enquanto olhava-me, seu desejo por mim era evidente.
Fiquei uns minutos paralisada pela visão.
- Claro. – concordei também tirando as roupas lentamente.
Permaneceu quieto olhando-me fixamente enquanto me despia, pegou-me no colo e levou-me para a água que estava quente e gostosa. Então me devorou por inteira... Quando fazíamos amor, não ficávamos dentro das margens, eram completamente insano e saboroso.
Em um piscar de olhos o dia já estava chegando ao fim, havíamos passado quase o tempo todo conversando e nos amando. Sentia como se o conhecesse há anos e estar ao seu lado era fácil, não ficava tão feliz desde antes de minha mãe falecer... Acabamos passamos aquele dia todo sem sair do apartamento, ele havia preparado um delicioso almoço para nós, tudo tinha sido perfeito e não estava com vontade de ir embora, de sair da minha caixinha de sonhos e voltar para realidade.
- Pensei em leva-la a opera. – comentou me soltando e se levantando.
Estávamos deitados em uma espreguiçadeira no jardim.
- Adoraria, mas primeiro preciso ir até o meu apartamento para me arrumar. – avisei sorrindo.
Estava animada seria a primeira vez que iriamos sair juntos em São Paulo.
- Não precisa. Venha. – disse estendendo-me a mão.
Quando entramos no quarto levei um susto, havia em cima da cama uma imensa caixa com um laço muito lindo.
- Para você, abra. – avisou sorrindo.
- Como... – balbuciei confusa olhando para ele.
Não tinha percebido ninguém ir até o apartamento e senti-me um tanto constrangida, pois havia ficado o tempo todo apenas de peças intimas e uma camiseta dele...  Minhas bochechas rugiram-se.
- Pediu para comprarem, mas a escolha foi minha. – avisou ainda sorrindo – Sei que gosta de alta costura... Abra.
Ainda constrangida peguei a imensa caixa e desfiz o laço, revelando um lindo vestido Dior amarelo, tomara que caia, longo, com uma pequena calda, simplesmente magnifico. Ele conhecia bem meus gostos.
- É lindo Enzo... Mas não precisava. Não posso aceita-lo. – avisei olhando em seus olhos.
- Arrume-se. – orientou saindo em direção ao banheiro sem me dar muita atenção.
Estava feliz com o presente, mas não satisfeita, pois era um pouco demais. Não estava com ele para ganhar mimos e sim porque o amava.
Fiz um imenso esforço para arrumar meu cabelo com poucos recursos e fazer uma maquiagem simples, mas o vestido jogou meu cabelo e a maquiagem para escanteio, era realmente muito lindo e ficou perfeito em meu corpo.
- Está maravilhosa. – comentou beijando meus lábios com carinho quando me aproximei já pronta. – Vamos, estamos em cima do horário.
- Obrigada. – agradeci sorrindo e analisando o quanto ele estava impecável em um smoking preto.
***
Quando chegamos ao teatro, por onde passávamos todos os olhares estavam em nós, a opera já estava começando e ficamos em um camarote reservado. Foi tudo muito lindo e emocionante, foi a primeira vez que vi um espetáculo como aquele e fiquei fascinada. A voz da cantora parecia entrar em minha alma e toca-la, meus olhos marejaram de lágrimas e minhas mãos ficaram coladas nas dele o tempo todo...
- Enzo Barbieri. Surpreendo-me em vê-lo. – comentou uma morena, de olhos azuis, alta e muito linda se aproximando com um imenso sorriso quando a opera terminou.
Tocou em seu ombro e beijou-lhe o rosto bem próximo aos lábios. Senti o ciúme percorrer meu corpo.
Quem era ela?
- Que bom vê-la. – respondeu ele também sorrindo.
Serrei meus dentes e torcei os lábios.
- Faz meses que não nós víamos. O que houve? – perguntou.
- Muitos compromissos.
- Eu soube... Saudades. – disse tocando-o novamente e falando algo demorado em seu ouvido que o fez sorrir.
A cada minuto que se passava, mais nervosa e tensa ficava. Ela deixava-me intimidada.
- Prazer Irina. – falou olhando em meus olhos e estendendo a mão – Digamos... Amiga intima do Enzo.
- Manoela, prazer – disse respondendo o comprimento e tentando não tremer. Estava com muito ciúme.
Como assim ‘amiga intima’? Quanto intima? Minha mente já fervia de perguntas.
- Você é realmente incorrigível Enzo, não tem jeito. – comentou tocando-o novamente e rindo.
Aqueles toques estavam me deixando totalmente desconcertada, queria um buraco para entrar dentro. Pareciam tão perfeitos juntos... Parecia conhecê-lo tão bem, de uma forma que eu ainda não o conhecia.
- Seu pai está aqui? – perguntou ele serio.
- Não, vim com um amigo. Meu pai está na Rússia. – respondeu de forma leve. Ela parecia ser muito elegante e sofisticada. – Agora preciso ir, mas espero sua visita muito em breve. Temos muito a conversar. – avisou saindo da mesma forma com que chegou.
Estava fazendo um enorme esforço para não fazer perguntas, para conter meu ciúme e não tremer. Mas estava sentindo-me intimidada e diminuída. Ele parecia tão natural e a vontade com ela...
- Manoela. – chamou – Tudo bem? Você parece estar em outro lugar.
- Estou bem... – sussurrei ainda tentando conter minhas duvidas. Não estava conseguindo esconder.
- Não precisa sentir ciúme, ela é apenas uma amiga antiga. – avisou sorrindo, parecia que podia ler minha mente – Vamos. – disse beijando meus lábios com carinho
  Ainda estava tensa, sua breve explicação não havia sido suficiente para minha mente voraz, ligeiramente insegura e meu coração apaixonado. A ideia de outra mulher deixava-me triste. Durante o caminho para seu apartamento permaneci calada e pensativa, tinha tantas perguntas para fazer, mas ele sempre se esquivava quando o assunto era sua vida pessoal. Quase não sabia nada a seu respeito...
- Enzo. – chamei assim que chegamos ao apartamento – Não sei quase nada sobre você, sobre seu passado. – despejei, minha mente estava a mil - Não conheço seus amigos...
- Sabe bem mais do que imagina e muito mais do que a maioria das pessoas. – disse se esquivando novamente, ele sempre fazia isto.
- Você é tão fechado, misterioso. – continuei tentando, precisava saber mais.
- Estas perguntas são porque sentiu ciúmes hoje? – indagou enquanto tirava o smoking.
- Não, eu... – balbuciei confusa.
- Conheci a Irina na Rússia anos atrás. Tenho negócios com seu pai e somos bons amigos. – explicou – Não precisa sentir ciúme – avisou sorrindo e vindo em minha direção.
Aquelas palavras não foram suficientes...
- Quase não fala sobre sua vida. – insisti novamente.
Queria conhece-lo melhor.
- Não tem nada de especial nela, muito pelo contrário. Não falo porque não gosto! – respondeu serio. – Mas gosto de estar com você, principalmente quando estamos ocupados. – disse abrindo o zíper do meu vestido com cuidado, enquanto beijava minha nuca, meu pescoço, meu ombro...
- Enzo... – sussurrei em protesto.
- Gosto quando não estamos de roupas. – continuou sem dar atenção a minha negação e terminando de me despir, virando-me de frente para ele.
Pegou-me no colo e deitou delicadamente na cama.
O restante da noite foi extremamente carinhoso e romântico, fizemos amor com cuidado e sem pressa. A cada beijo e toque mais distantes, pequenas e insignificantes ficavam minhas duvidas. E mais envolvida e apaixonada ficava.  Quando adormeci em meio aos seus braços já não havia espaço para inseguranças, estava tranquila.
Ele tinha esse efeito sobre mim.
 Bom dia – falou beijando meus lábios assim que abri os olhos.
Ele estava deitando de frente para mim sorrindo, era a visão do paraíso, não conseguia imaginar uma forma melhor de acordar.
- Bom dia. – respondi passando a mão em seu rosto como se o desenhasse. – Que bom que estou aqui. – comentei.
- Concordo plenamente garota.
- Pare de me chamar de garota, sabe que não gosto. – pedi seria e ele voltou a me beijar sem dar ouvidos ao meu pedido.
- Lamento, mas preciso voltar para o mundo lá fora. – avisou levantando-se, só então percebi que ele estava praticamente pronto para sair.
- Existe mundo lá fora?! – brinquei também me levantando e enrolando meu corpo nu no lençol. – Em um minuto estou pronta.
- Não precisa correr, ainda vamos tomar o café da manha, afinal gastou muitas energias esses dias. – comentou sorrindo e terminando de se vestir.
Olhando-me no espelho do banheiro percebi que realmente precisava repor minhas energias, tomei um banho rápido e fiz o melhor que pude com minha aparência.
- Vou viajar por alguns dias, mas prometo lhe procurar assim que voltar. – avisou enquanto comíamos.
- Que pena, sabe quantos dias? – perguntei curiosa.
- Acredito que talvez uma semana – respondeu serio.
- Nossa isso tudo. – sussurrei. – Está tudo bem? – minha curiosidade insistiu.
- Sim, apenas negócios.
- Vou sentir sua falta. – confessei tristemente torcendo os lábios.
Havia acabado me mudar e já iriamos ficar separados por alguns dias, não estava feliz com isto.
- Eu também. – disse beijando-me com carinho – E você não imagina o quanto... Vamos, vou deixa-la em casa.
Não consegui evitar de ficar um tanto tensa pela sua falta, mas aproveitei os dias para descansar meu corpo, procurar emprego e terminar de organizar minha nova vida em São Paulo. Uma cidade verdadeiramente surpreendente, cheia de emoções e de lugares lindos para se conhecer, mas quanto a empregos estava bem complicado para minha área, já tinha ido a quase todos os grandes escritórios de advocacia que tinha vontade de trabalhar e em alguns outros que eram mais próximos do meu apartamento. Elisa estava na mesma citação e já estávamos começando a ficar preocupadas, quando finalmente nós conseguimos entrevista para o mesmo escritório.
- Estou muito animada. – confessei ajeitando-me no sofá.
- Ainda não entendo porque não quis levar um currículo na Barbieri Associados. – comentou Elisa pensativa.
- Não sei muito bem como explicar, mas penso que não daria muito certo e também ouvi dizer que eles não têm vagas disponíveis.
- Vou me deitar, porque amanha vamos acordar cedinho e quero estar bem disposta. – explicou levantando-se – Boa noite. – concluiu saindo.
Quando ela saiu o interfone do apartamento chamou e no momento em que vi a imagem no visor fiquei muito animada, haviam se passado seis dias... finalmente ele estava de volta.
- Olá estranho – falei abrindo a porta e deleitando-me com a visão.
Estava encostado na parede, segurando o paletó nas mãos, tirou lentamente os óculos escuros e sorriu para mim enquanto olhava em meus olhos. Suas mãos puxaram-me rapidamente e finalmente nossos lábios estavam mais uma vez unidos em um beijo quente, longo e delicioso.
- Então é assim que recebi um estranho... de camisola – comentou analisando meu corpo.
Senti uma tensão percorrer-me por completo, ele estava muito provocante e eu com saudades.
Havia milhares de borboletas voando sem rumo dentro do meu estomago...
- Entrei. – falei puxando-o para dentro e beijando novamente seus lábios com mais vontade e ansiedade.
Passei as mãos em seus cabelos e segurei forte em seu pescoço, ele jogou o paletó no chão, tirou a camisa, desabotoou a calça, apertou minha cintura contra seu corpo, pude sentir seu desejo... Tirou minha camisola lentamente enquanto acariciava minha pele, jogando-a ao chão da sala junto com sua camisa. Com pressa nos beijávamos e andávamos em direção ao meu quarto.
Quando a porta se fechou colocou-me contra ela, levantou meus braços e terminou de me despir enquanto apertava minha pele fortemente, sem deixar de me beijar. Puxou meu cabelo para trás e seus lábios começaram a percorrer todas as partes do meu corpo...
- Ahhhhh – gemia de prazer em suas mãos.
- Senti sua falta garota. – confessou entre os beijos enquanto me levava para a cama e terminava de se despir.
As caricias foram ficando mais urgentes, ele devorava-me por completo. Estávamos quase desesperados um pelo outro. Com um movimento rápido colocou-me embaixo dele e fez-me sua sem mais preliminares... Gemia alto, sem me preocupar se Elisa poderia nos ouvir. Estava louca de desejo, de saudades e de prazer... Sedenta. E pude notar claramente que ele também.
Naquela noite não dormimos.
- Está tão gostoso aqui, que não tenho vontade de me levantar. – confessei ainda em seus braços, assim que o celular despertou.
- Então não se levante. – orientou acariciando meu corpo com malicia. – Ainda temos algum tempo...
Estávamos deitados, nus e abraçados. Algumas peças de roupas espalhadas pelo chão, a luz do sol entrando timidamente no quarto e eu totalmente satisfeita e feliz.
- Tenho um compromisso. – expliquei me levando devagar e vestindo minhas peças intimas. – preciso me apressar.
- Não tem. – afirmou ele se aproximando – Volte para cama! – ordenou serio me puxando.
- Não posso, tenho uma entrevista de trabalho. – avisei soltando minha mão e voltando a me arrumar.
- Cancelei sua entrevista, você vai trabalhar para mim. – concluiu seguro.
Fiquei espantada com suas palavras, olhei fixamente em seus olhos esperando por algum sinal de que estava brincando.
- Como assim? – perguntei confusa.
- Fui claro, você vai trabalha para mim. – disse seriamente – Vá ao meu escritório e se apresente, esta tudo pronto. E agora volte para a cama. – ordenou novamente. - Restam ainda alguns poucos minutos para aproveitar da sua deliciosa companhia. – concluiu sorrindo com malicia e olhando para meu corpo.
- Fez o que? – perguntei tensa, vestindo a primeira roupa que encontrei. Queria cobrir meu corpo, estava nervosa. - Não fez isso porque estávamos envolvidos? – indaguei seria me aproximando.
- Não. – respondeu me acariciando o rosto – Fiz porque sei que você é competente, levantei seu currículo. – concluiu se afastando e começando a se vestir. – Quero que trabalhei para mim.
Como assim? Senti-me um tanto perdida.
 - Não quero trabalhar para você, quero a oportunidade que tirou de mim. – avisei balançando a cabeça em negativa - Tive muito trabalho para consegui-la.  – afirmei frangindo à testa.
Minha mente estava confusa e enfurecida.
- Eu sei e admiro seu esforço. – comentou ainda se vestindo – Mas não te entendo. Estou lhe oferendo uma oportunidade muito melhor, sabe quantos advogados querem trabalhar para mim. – disse serio olhando-me e se aproximando.
- Imagino... Mas eu não. – afirmei segura.
- Não se desmereça e não pense que fiz isto em troça de sexo. – explicou – Se não fosse competente e preparada não lhe contrataria, acredite! Jamais misturo prazer com trabalho.
Ele estava tão diferente, frio. Parecia outro homem.
- Preciso pensar. – declarei me sentando - Não sei se devo aceitar. – confessei pensativa.
- Se não quiser não vou lhe obrigar, mas pense bem. – disse sentando-se ao meu lado – Será uma grande oportunidade para você e excelente para seu currículo. – explicou tocando em meu rosto - Agora preciso voltar ao trabalho, depois te ligo. – beijou-me docemente e saiu em seguida não me dando tempo para despejar minhas duvidas.
Depois de viver emoções inexplicáveis agora estava enfurecida por sua atitude. Ele em um minuto era um homem doce e gentil e no outro frio e distante...  Não tinha esse direito e por mais que quisesse essa oportunidade, não sabia se deveria misturar sentimento com trabalho, pois na maioria das vezes sempre acaba em confusão.
Precisava arejar a mente e de um bom café para pensar sobre isso, para analisar se deveria aceitar ou não sua proposta. Então troquei de roupa rapidamente, coloquei meu tênis e fui correr. Passei o dia todo remoendo aquela história, ele realmente tinha cancelado minha entrevista e eu estava enfurecida com ele por isto, não podia ter feito isto sem minha autorização.
- Manu atenda esse telefone ou coloque no silencioso. – avisou Elisa entrando na cozinha.
- Não quero falar com o Enzo. – respondi desligando o aparelho. – Como foi sua entrevista?
- Correu tudo bem, fui contratada. – disse sorrindo.
- Parabéns, você merece. – disse com um sorriso morno.
- Lamento por você.
- Ele não podia ter feito isto comigo... – murmurei bebendo um gole de café e comendo um pedaço do delicioso bolo de chocolate em minha frente.
- Eu aceitaria essa vaga, afinal, estaria unindo o útil ao agradável.  – sugeriu sorrindo e comendo também – Acorda Manu o homem é lindo, poderoso e está te oferecendo uma oportunidade no maior escritório de advocacia do país, o que mais você quer?
- Tenho medo de que dê errado. – comentei voltando a beber. – Tenho medo de acordar deste sonho...
- Para com isto, você merece ser feliz. – disse sorrindo – Mesmo que ele seja um pouco demais... – brincou. – Todas as mulheres que conheço se derretem por ele.
- Isso não me ajuda muito sabia. – retruquei seria. – Sabe que sempre fui segura e confiante, mas quando estou com ele sinto-me vulnerável... Não sei explicar, pode ser pela diferença de idade. Mas é como se não conseguisse resistir a ele, fico atordoada. Não estou me reconhecendo. – desabafei tensa.
Estava sendo completamente honesta com ela. O Enzo parecia estar impregnando em minha alma.
- Realmente, nunca a vi tão envolvida por um homem antes. – concordou também bebendo café em minha xicara – E olha que durante um tempo cheguei a pensar que se casaria com o Pedro, já estava até encomendando meu vestido de madrinha.
- O que senti pelo Pedro nem chega aos pés do que sinto pelo Enzo. – expliquei torcendo os lábios.
Fechei por alguns instantes os olhos enquanto pensava. Namorei o Pedro Henrique Albuquerque, um empresário lindo de vinte e nove anos de idade que conheci em uma festa, por dois anos. Nos dávamos muito bem, já falávamos em casamento, mas faltava alguma coisa e meses depois de termos terminado conheci o Enzo, que me arrebatou e virou meu mundo, mudando completamente minhas certezas sobre relacionamentos e homens.
- Não sei o que fazer com esse sentimento. – confessei - Tenho medo de acordar e perceber que tudo não passou de um sonho...
- Então vá mais devagar Manu, com mais cuidado. – orientou – Hoje ouvi uma coisa estranha – sua feição mudou instantaneamente – A advogada que a fez entrevista comigo, disse que o Enzo é casado. – confessou tensa.
- Como assim? – indaguei confusa.
- Quando comentei que não foi você quem cancelou sua entrevista e sim ele, que estavam envolvidos e que ele estava querendo te contratar, ela despejou seria.
- Não é verdade .– afirmei – Não acredito...
- Também não acreditei, mas ela insistiu e disse que trabalhou um tempo na Barbieri Associados. – explicou pensativa - Algumas outras pessoas também concordaram com ela.
- Se fosse verdade a essa altura já saberia... Nós saímos juntos em publico, conheci seu apartamento, até uma amiga que não gostei muito. Elas devem estar confundindo. – comentei seria – Concordo que ele seja um tanto misterioso, mas casado penso que não. – disse balançando a cabeça em negativa, não poderia ser verdade.
Mas não pude deixar de ficar preocupada e de sentir um frio em minha barriga.
Será que o conheço? Minha mente voraz já começava a trabalhar.
- Bom, não pense muito sobre isto. – orientou com um sorriso torto – É melhor irmos dormir.
Já era tarde, a duvida estava plantada, mesmo acreditando que não era possível, meus instintos dizia-me que o Enzo escondia algo. Ainda não o conhecia por completo.
***
O dia tinha acabo de amanhecer o céu estava lindo, o sol brilhando forte e eu ainda estava deitada com preguiça de levantar. Passei a noite toda em claro pensando e não tinha resolvido se ficava com o emprego ao lado dele ou não. Minha mente estava uma confusão, nunca tinha me apaixonado por alguém desta forma, tão rápido, tão intenso e tão louco. Queria a oportunidade de emprego no melhor escritório do país, queria ficar ao lado dele o máximo de tempo possível, mas tinha medo que desse errado justamente por isto.
- Oi, bom dia. Sim, estou bem... Estava pensando em você. – declarei atendendo ao telefone – Claro que quero passar o fim de semana ao seu lado. – respondi entusiasmada. – Em meia hora estou pronta. – Conclui desligando o aparelho e sorrindo de animação.
Em instantes atrás estava com raiva dele pela forma como se portou e cheia de duvidas a seu respeito, mas agora já estava feliz novamente. 
Como ele podia exercer esse poder sobre mim? Eram tantas perguntas em minha mente. Poderia descrevê-lo como um homem sedutor, enigmático e muito persuasivo, era um ponto de interrogação... 
O Enzo que me buscou em casa era outro, leve, solto, tão diferente, não parecia se conter, premeditar e controlar os atos como antes, era por este que estava apaixonada. Durante todo caminho sorrimos, conversamos e nos divertimos muito.
- Nossa. – comentei chegando.
Estávamos no litoral Paulista e era extremamente lindo. A água do mar tinha uma cor que acalmava meu coração, o ar era puro, o cheiro das arvores agradavam meu olfato.
- Imaginei que já estava com saudade da praia e fazia muito tempo que não vinha a esta casa. – declarou entrando.
E sem perder tempo jogou as malas no chão e se aproximou devagar, olhou por alguns instantes para mim, sorriu e beijou-me vagarosamente. Seus braços enrolados em minha cintura apertando-a forte contra si, fazendo minhas costas descerem um pouco para trás, coloquei minhas mãos em seu cabelo puxando-os com força.
- Vem – disse me pegando no colo.
Aquele momento parecia tão surreal, eu gargalhava de alegria e sentia que não poderia ficar mais feliz. Ele era mais romântico do que parecia ser.
O quarto era lindo com grandes janelas que davam aceso a praia, uma cama enorme no centro e de repente nos nela. Seus dedos exploravam meu corpo, minhas unhas cravadas em suas costas fortes, nossos lábios grudados, nos corpos suados, meus cabelos emaranhados, minhas pernas o abraçaram, o desejo a flor da pele, nos unimos naqueles lençóis brancos como se estivéssemos dançando uma musica que só tocava em nossa alma... Amamo-nos sem muita urgência, com cuidado, delicadamente conhecendo o corpo um do outro.
Parada junto à janela olhava a lua refletir no mar como se o beijasse, ele em retribuição estava calmo e sereno, o vento fazia minha camisola branca e as longas cortinas do quarto voarem. Era uma cena perfeita que ficou melhor ainda quando senti o corpo quente do Enzo que me abraçava delicadamente por trás, encostando seu queixo em minha cabeça e envolvendo-me com seus braços fortes. Permanecemos ali parados em silencio por um tempo, podia sentir seu perfume, seu calor. Analisei em instantes minha vida e que queria sim, ficar o máximo de tempo ao lado dele, que iria arriscar e trabalhar para ele.
- No que está pensando? – indagou sem se mexer.
- Que vou trabalhar para você. – respondi me virando ficando com a cabeça no peito dele.
- Fico satisfeito. – comentou me beijando os cabelos de leve.
Eu sorri, levantei o rosto, estiquei meu corpo, era bem mais alto do que eu. E o beijei.
O Fim de semana foi simplesmente maravilho e de certo modo um tanto cansativo. Cozinhou de forma impecável para nós todos os dias, caminhamos na praia e nos amamos dentro do mar. Estava feliz.
***
O espelho refletia uma mulher confiante, seus olhos grandes e verdes estavam brilhando, seus cabelos loiros presos em um choque elegante, seu corpo esguio coberto por um terno de corte perfeito... Sempre me achei bonita, mas hoje estava especialmente me sentindo maravilhosa, poderia ser a felicidade saltando para fora. Estava animada para meu primeiro dia de trabalho, queria causar uma boa impressão profissional em todos e especialmente nele.
Nem o transito caótico da cidade nem a Elisa cantando dentro do carro me fez perder o bom humor e desconcentrar do meu objetivo. Ela esta alegre como sempre, tinha horas que pensava que ela não era normal, pois o tempo todo era feliz, não existiam dias cinza em seu mundo só no meu.
Meus olhos pararam e um frio percorreu minha espinha, já tinha visto fotos, mas pessoalmente era muito mais impressionante... O complexo de prédios onde era o escritório de advocacia mais prestigiado do Brasil; Barbieri Associados.
- Bom dia em que posso ajuda-la? – perguntou a moça linda e impecável atrás do balcão na recepção, assim que me aproximei.
- Sim, sou Manoela Vieira – respondi esperando uma reação que não aconteceu – Nova advogada, começo hoje. – conclui sorrindo.
Ela parou um instante e me olhou dos pés a cabeça, depois digitou algo no computador a sua frente. Com um sorriso falso me explicou aonde ir e me entregou um crachá para entrar.
Tudo era muito lindo, quanto mais andava, mais impressionada e entusiasmada ficava.
- Senhorita Vieira, vou precisar dos seus documentos até amanha e seja bem vinda ao Grupo Barbieri. – disse a moça simpática do departamento pessoal. – Vá até o ultimo andar e converse com a secretária do Sr. Barbieri, o nome dela é Andreia. – concluiu sorrindo.
Agora sim, estava contratada e iria vê-lo. Depois do fim de semana perfeito no litoral, fazia dois dias que não nos víamos, nós falando apenas por telefone, já estava com saudades, mas claro que iria me comportar no ambiente de trabalho.
Quando as portas do elevador se abriram revelando o ultimo andar, onde ficava a sala do presidente e dos diretores, fiquei uns instantes boquiaberta, era simplesmente lindo. Uma ampla sala de espera muito bem decorada, com um enorme sofá de couro branco.
- Gostaria de falar com o Enzo... quero dizer com o sr. Barbieri – disse corrigindo meu erro e sorrindo para a secretária do andar.
- Seu nome, por favor. – perguntou com indiferença.
- Manoela Vieira.
Olhou-me por completa enquanto verificava no computador. Pude notar a curiosidade em seu olhar.
- Seja bem vinda. O senhor Barbieri vai recebê-la agora. – finalizou indicando onde entrar.
Eu estava ansiosa.
- Olá. – disse empurrando a pesada porta de madeira e sorrindo.
Estava lindo, de pé encostado a mesa, com um de seus clássicos ternos pretos e um sorriso provocador nos lábios. Ele combinava perfeitamente com aquela sala cheia de livros.
- Que bom que veio. – disse vindo em minha direção e beijando meus lábios levemente.– Sente-se. – indicou se sentando também ao meu lado.
A parede lateral da sala chamou-me a atenção, era totalmente de vidro e dela via-se a cidade que parecia pequena e frágil lá embaixo.
- Será minha assistente vai trabalhar somente para mim, não precisa responder a mais ninguém.– explicou sorrindo – Sei que não preciso falar, mas aqui deve me tratar como seu chefe e lhe tratarei como qualquer outra funcionária, com imparcialidade. – continuou.
- Claro. – concordei seria.
- A Helen lhe aguarda lá fora, é a sua secretária, vai lhe mostrar sua sala e ficará a sua disposição. Aproveite o primeiro dia, apenas para conhecer as instalações e o restante dos colaboradores. – informou passando os dedos em meus cabelos – Nunca os tinham visto presos... Senti sua falta. – confessou.
Fechei meus olhos lentamente, meus lábios se umedeceram esperando o beijo que tanto queria.
- Aqui não. – disse se colocando distante novamente.
Queria puxa-lo, brigar com ele por não ter me beijado, obriga-lo a me beijar.
- E tem mais uma coisa...  – percebi que respirou fundo - Preciso lhe confessar algo que já deveria ter contado há muito tempo. Sei que irá se magoar, mas preciso que confie e que principalmente acredite em minhas palavras. – sua expressão estava seria.
Senti um gelo percorrer meu corpo.
- Desculpe-me pela demora em contar-lhe a verdade, mas Manoela eu sou...
Não houve tempo para terminar a frase, uma morena estonteante entrou na sala sem bater ou avisar.
- Desculpe-me por isto. – disse baixinho me olhando nos olhos.
- Enzo... – chamou se aproximando.
Suas roupas deixavam as minhas com vergonha.
- Oh! Não sabia que estava com alguém aqui. – seus olhos pareciam curiosos – Quem é você? – perguntou sem muito entusiasmo.
- Está é a senhorita Manoela Vieira nova advogada assistente que contratei. – disparou ele rapidamente não me deixando responder.
Estava confusa olhando para ele, parecia agitado e tenso.
- Não sabia que estávamos precisando de novos advogados. – indagou ela beijando os lábios dele levemente e ficando ao seu lado. – Meu irmão quer marcar uma reunião.
O chão se abriu aos meus pés, o mundo girava, me sentia tonta, meu estômago embrulhou queria vomitar.
Estava começando a entender tudo...
Como pude ser tão tola? Por isso não falava de sua família.
- Barbara Barbieri, prazer. – apresentou-se estendo a mão e sorrindo.
- Prazer. – respondi o cumprimento paralisada.
- Diga ao Marcelo que a tarde estou disponível e nos de licença agora. – ordenou friamente.
- Tudo bem. – respondeu sorrindo e se retirando da sala.
Continuei paralisada olhando para ele, sem conseguir acreditar. Senti as lagrimas encherem meus olhos.
- Manoela, posso explicar. – disse pegando na minha mão – Sei o que parece, imagino que esteja chateada, mas acredite não existe nada entre nós, não a amo, nosso casamento é apenas de aparências...
- Você me enganou. – afirmei quase gritei o interrompendo e me soltando. – Me fez de idiota esse tempo todo. Você é casado... Não passei de sua amante. – esbravejei – Como pode fazer isto?
Minhas mãos estavam tremulas, minha mente confusa e meu coração despedaçado.
- Por favor, acalme-se e me escute. – pediu tocando-me novamente - Você é mais importante para mim do que imagina...
Não estava mais ouvindo sua voz, sai rapidamente do prédio, quase correndo. O mundo estava desabando sobre minha cabeça, estava desorientada na rua, não sabia para que lado ir, estava perdida e zonza no meio dos carros.
Aquilo não podia estar acontecendo comigo... Era mentira... Não podia acreditar, O sonho havia se acabado.
Como fui idiota!
***
Meus olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, a garrafa de Tequila quase vazia em cima da mesa, minha aparência de alguém que saia de um velório, meus cotovelos apoiados segurando minha cabeça que parecia que iria cair a qualquer momento, meus cabelos emaranhados como se nunca tivessem sido penteados, revelavam o que estava sentindo e o que se passava em minha mente. Queria apagar da memória os últimos meses...  Que nada daquilo tivesse acontecido... Queria...
Olhando para o celular, as lágrimas rolavam incessantemente molhando a mesa ainda mais. Sentia meus olhos queimando e uma imensa tristeza tomando conta do meu ser.
Como ele pode fazer isso comigo? Era uma completa idiota, uma tola apaixonada por um homem casado.
- Não vai atendê-lo? – perguntou Elisa pegando o celular.
- Para ouvir mais mentiras do que já ouvi? Não, obrigada. – respondi sem me mexer. – Se é verdade que não a ama, porque está com ela?! Ele teve mais de três meses para me contar a verdade e permitiu que descobrisse assim... Vou esquecê-lo e tira-lo de uma vez da minha vida. – afirmei bebendo mais um gole seco que desceu queimando.
- É um canalha, mentiroso. – disse também bebendo Tequila.
Eu já não estava mais prestando atenção aos seus conselhos, minha mente estava em outra dimensão. Só queria ficar quietinha chorando e acabar com aquela garrafa de bebida para tentar esquece-lo.
Era minha única opção.