_____________________________________________________CAPÍTULO III
Três meses depois.
Ela.
Estava me sentindo meio zonza, ouvia pessoas
gritando nervosas, buzinas de carro e sentia um cheiro forte. Fechei meus olhos
para tentar concentrar-me, mas foi em vão, o caos deixava-me tensa. São Paulo
estava sendo uma experiência totalmente nova para mim, principalmente pela
grosseria dos motoristas impacientes uns com os outros. Voltar à rotina normal
da minha vida, depois de umas merecidas e longas férias não estava sendo tarefa
fácil, especialmente em uma cidade nova, mas estava me esforçando ao máximo,
até porque estava desesperada em encontrar um trabalho na minha área. As
promessas ali estavam melhores, além do beneficio de ficar na mesma cidade que
o Enzo, tinha que arriscar... Crescer profissionalmente dependida
exclusivamente de mim, já na área sentimental dependia dele.
O apartamento era um charme, pequeno, aconchegante e
chegar nele foi um verdadeiro alivio para minha sanidade mental.
- Oi Elisa – falei alegremente atendendo ao celular,
sentada no sofá que ficou ao lado da janela. A vista era significantemente
bonita. – Que bom que amanha você chega – comentei sorrindo – Assim tenho certeza
que não vou enlouquecer sozinha.
O telefonema foi reconfortante, esta me sentindo
abandonada naquele momento. Havia mandado mensagens para o Enzo avisando que
tinha me mudado e não obtive nenhuma resposta, ligado em seu celular que deu
fora de área. O que estava me deixando ansiosa, confusa e triste. Mas não
poderia me influenciar por isto, estava ali por mim e não por ele. Também tinha
o fato de ter escondido que iria me mudar até tudo estar totalmente concluído e
faziam apenas cinco dias que não nos víamos.
Os últimos meses passaram como um sonho. Todos os
fins de semana ele viajava para Recife e ficávamos juntos, estava completamente
envolvida por seu charme e rendida aos seus carinhos... Suspeitava que
estivesse apaixonada.
Fiquei quieta no sofá por horas, com preguiça de
sair. Meu pai havia sido muito cuidadoso em montar aquele apartamento para mim,
claro que iria pagar cada centavo para ele um dia. Naquele momento me veio uma
imensa falta da minha mãe, seus conselhos, seu carinho...
- Ah – saiu um gemido da minha garganta quando ouvi
as batidas na porta – Que... já estou indo. – conclui levantando-me
rapidamente.
- Que rosto horrível, um caminhão te atropelou? –
perguntou Elisa me observando e sorrindo quando abri a porta.
- Não! Dormir no sofá mesmo. – respondi enquanto ela
entrava com suas malas.
- Você está péssima lembrando muito um pano de chão.
– analisou seria.
Eu não pude conter o riso, como era bom ter ela
junto a mim. Minha melhor amiga desde sempre. Então a abracei fortemente.
- É muito bom ter você aqui. – confessei – Vou tomar
banho, você se acomoda. – conclui saindo.
Durante o banho fiquei pensando no Enzo, em uma forma
de encontra-lo. Queria ir até seu escritório, mas não sabia se devia. Estava
com saudade e preocupada.
Porque ele não
respondeu minhas mensagens ou me ligou? Estava começando a
enlouquecer.
Pare com isto
Manoela! Ordenei.
Tinha que me concentrar em procurar um emprego,
precisava me fixar e crescer profissionalmente. Realizar meus objetivos.
- Manu – gritou Elisa entrando no meu quarto – tem alguém
querendo te ver e tenho certeza que vai amar a visita – avisou sorrindo e
piscando para mim – vou dar uma volta, conhecer a região, comprar comida. Quando
ele for embora você me liga que eu volto – concluiu já saindo.
Analisei-me no espelho, cabelos molhados, enrolada
de toalha... Parecia promissora a visita, não consegui evitar o sorriso.
- Oi – disse chegando à sala – Demorou... – murmurei
mordendo os lábios.
- Vim assim que pude. - respondeu sorrindo - Sua
mensagem me surpreendeu, porque não me avisou que estava se mudando para São
Paulo? Teria organizado tudo para você – avisou chegando perto e olhando-me
cuidadosamente – Sabe que está me provocando... – instigou com aquele sorriso
no canto do lábio que tanto me cativou.
- Não quis incomoda-lo com a mudança, foi tudo muito
repentino e quanto à provocação... Não sabia que viria agora, não foi minha intenção.
– expliquei rapidamente sorrindo com malícia.
A proximidade de nossos corpos e minha ansiedade me
deu frio na barriga.
- Senti saudade – confessou passando a mão nos meus
ombros expostos – Quero te beijar... – disse já bem próximo aos meus lábios,
com a mão ainda em meu ombro.
Não perdi mais tempo, puxei seu rosto e o beijei,
fui mais atrevida do que esperava. Ele apertou seu corpo contra o meu e pude
sentir seu desejo. Suas mãos começaram a me acariciar ainda coberta pela
toalha, os beijos fora ficando mais urgentes... Uma onde de calor me percorreu,
senti como se fosse derreter. Então me soltou, jogou minha toalha longe e
olhou-me por uns instantes como se analisasse o que via. Sorriu maliciosamente despindo-se
devagar, fazendo com que o ar sumisse para mim, seu corpo parecia desenhado,
era perfeito...
Puxou-me mais uma vez e me colocou sentada em seu
colo no sofá. O toque de suas mãos firmes e quentes em minha pele nua e fria me
fez arrepiar, seu beijo urgente e delicioso, o cheiro que me embriagava. Seus
lábios me percorrendo por completa fazia-me queimar por dentro... Minhas mãos
apertando sua pele... o desejo... Estava enlouquecendo... E então eu me entreguei ali mesmo no sofá da
sala. Seu ritmo perfeito me levou lentamente ao paraíso varias vezes, ondas e
ondas de emoções me invadiam. O encaixe era perfeito, parecia surreal, não
queria que aquele momento terminasse nunca e quando terminou permaneci deitada
em seu peito de onde não pretendia sair.
Passamos o
restante da manhã daquela forma, deitados no sofá, agarrados nos amando e
conversando. Foi em seus braços que me rendi ao meu próprio medo e confessei a
mim silenciosamente que estava apaixonada por ele, que o queria em minha vida e
que tinha medo de perdê-lo de uma forma que fazia meu estômago gelar.
Como pude me
envolver e apaixonar tão rápido por alguém que mal conheço?
Não sabia quase nada sobre dele, onde estava me metendo e no que iria dar, mas
valia a pena ariscar.
- O que estamos fazendo? – perguntei, minha mente
estava lotada de duvidas. – Quero dizer... O que somos?
- Você quer uma definição? – retrucou.
- Sim...
- Não sou muito bom com este tipo de conversa... Mas
já estamos a alguns meses juntos e gosto de estar com você. Tem gente que diria
que somos um casal, namorados. – respondeu acariciando meu corpo.
- Acredita em amor a primeira vista, almas gemias,
destino? – insisti confusa.
Ele estava virando meu mundo, destruindo minhas
certezas, mudando minhas razões...
- À primeira vista existe apenas atração física,
desejo. Quando a almas gemias e destino, gosto do som das palavras, fora isto
não sei o que dizer sobre ela. – respondeu serio. – Não sei se acredito.
Eu não sabia explicar o porquê suas palavras tinham me
deixado triste, também não acreditava em clichês.
- Então quando se aproximou foi apenas por desejo? –
indaguei agitada.
- Claro, deixou-me bem interessado. Tanto que
atravessei o país para conhecê-la melhor.
- E agora? – insisti, queria ouvir o que meu coração
pedia.
- Estou começando a acreditar em amor a segunda
vista – respondeu ainda me acariciando - Estou rendido a você garota. Muito
mais do que imagina. – respondeu beijando-me levemente.
Como reflexo meu sorriso se abriu.
- Agora que me mudei, será mais fácil para nós
vermos. – comentei.
Estava animada e não podia negar que também tinha me
mudado para São Paulo para ficar perto dele. Estava completamente louca...
- Fiquei feliz por estar aqui, mas não gostei de ter
me escondido sobre a mudança. Não faça isso novamente! – avisou serio. – Vou
providenciar um apartamento melhor para você e um carro...
- Não quero nada disto! – interrompi seu raciocínio
me sentando - Não me mudei para você me sustentar - já estava um tanto tensa –
Não quero nada de você Enzo... apenas você! – expliquei olhando em seus olhos.
- Posso lhe proporcionar uma vida bem melhor e não
vai me custar nada fazer isto...
- Sou independente há muito tempo e já lhe aviso que
não vou aceitar nada. – disse interrompendo-o novamente. – Vim para São Paulo
em busca de oportunidades.
Estava começando a me sentir ofendida.
- Você é uma garota teimosa. – comentou sorrindo e
me fazendo deitar novamente em seu peito. – Sei que é independente, apenas
posso lhe ajudar até conseguir um trabalho.
- Realmente não precisa, sei me virar. – avisei
tentando acalmar.
- Como quiser. – concordou me beijando com carinho -
Mas se precisar...
- Se precisar de algo será o primeiro a saber –
disse sendo educada. – Obrigada.
- Não é isto que os namorados fazem?! – brincou -
Tem planos para hoje? – perguntou levantando-se.
- Não, ainda estou desfazendo as malas. – comentei
também me colocando de pé.
- Pensei em um jantar e em lhe apresentar meu
apartamento. – sugeriu passando a mão em meus cabelos e terminando de se
vestir.
- Claro. – confirmei animada.
Estar com ele era ótimo.
- Venho te buscar as 20:00hrs, agora preciso ir. –
avisou beijando meus lábios com carinho e saindo.
Dizia a mim mesma para ir com calma, para não me
animar muito, mas estava difícil de ouvir meus próprios conselhos. Elisa também
tentou, assim que chegou, me orientar a não ir rápido demais, mas já era tarde,
estava completamente apaixonada e entregue a ele. Mal o conhecia, não sabia
quase nada a seu respeito, porém sentia-me totalmente a vontade ao seu lado,
sentia que podia confiar-lhe até a minha vida.
Deve ser assim mesmo o amor, sem logica, sem
explicação... só da para saber sentindo.
Passei a tarde toda arrumando o apartamento e
tentando não imaginar como seria a noite, mas só de lembrar-me do toque quente de
suas mãos, meu corpo se arrepiava e sentia um frio na barriga. Olhei por alguns
instantes minha imagem refletida no espelho e fiquei satisfeita com o que via,
havia perdido horas escolhendo as roupas e arrumando o cabelo, queria parecer
elegante, sex e provocante, mas sem ser vulgar. Ficar a altura dele, que sempre
estava impecável.
- Manu, ele chegou. – avisou Elisa sorrindo.
- Como estou? – perguntei agitada e ansiosa.
- Linda. – elogiou sorrindo - Aproveite a noite
porque ela promete. – comentou piscando enquanto me observava sair.
Ele estava perfeito, com um de seus trenos pretos, encostado
no carro, tinha no rosto um sorriso discreto, mas provocante. Pude sentir seu
perfume de longe o que fez com que meu desejo aumentasse ainda mais.
- Está linda. – elogio quando me aproximei – Vamos –
disse abrindo a porta do carro.
Durante todo o caminho percebi que seus olhos sempre
estavam em mim e que apesar do silencio a atração entre nos estava a cada
instante maior.
- Pensei que iriamos jantar. – indaguei vendo que
ele estava entrando em um prédio de apartamentos.
- E vamos. Mesmo eu não estando com fome... –
respondeu olhando-me com malicia – Pelo menos não de comida.
Aquele olhar fez-me senti um frio na barriga, estava
ansiosa para estar novamente em meio aos seus braços.
- Bem vinda ao meu apartamento – avisou abrindo a
porta para que eu entrasse.
Era imenso e muito lindo. A sala de estar toda decorada
em couro e madeira, possuía um bar com todos os tipos de bebida, dela se tinha
acesso a área externa e também podia se ver ao fundo a cozinha toda branca com
muitos detalhes em vidro e um quarto enorme com uma cama bem no centro. Um
apartamento tipicamente masculino, mas de muito bom gosto e elegância.
- Nossa. – disse quase sussurrando quando chegamos à
área externa.
- Gostou?- perguntou sorrindo.
- Claro, não imaginei que fosse romântico. – afirmei
ainda por acreditar no que meus olhos viam.
A área externa era tão grande quanto o apartamento,
havia um imenso jardim, academia, área gourmet e uma piscina maravilhosa bem no
centro, a qual estava cheia de pétalas de rosas e velas, próxima a ela uma mesa
com uma bela refeição. Também tocava uma musica muito gostosa e envolvente.
- Não sei o que dizer. – balbuciei olhando para ele.
- Não diga... sinta. – disse se aproximando.
Passou a mão em meus ombros, levantou meu queixo e
beijou-me com desejo. Não houve mais nada a ser dito, suas mãos fortes já
estavam em mim. Beijou-me novamente enquanto me levantava e colocava sentada no
balcão que estava próximo. O enlacei com as pernas e comecei a tirar sua camisa
rapidamente sem interromper os beijos. Suas mãos exploravam meu corpo que
tremia a cada toque.
- Ahhhhh – deixei um gemido escapar de meus lábios
quando beijou meu pescoço e apertou minha coxa.
Parou uns instantes olhando para mim, pude ver o
desejo nos olhos dele. Então me carregou novamente só que desta vez colocou-me
na imensa cama, começou a despir-se revelando aquele corpo perfeito e cheio de
tatuagens que me deixava sem ar, em seguida tirou meu vestido com cuidado, pude
sentir o toque suave do tecido acariciando minha pele. Olhou-me novamente por
alguns instantes e sorriu com malícia.
Com os lábios percorreu cada extremidade do meu
corpo, começando pelos pés e foi subindo devagar, a cada beijo eu sucumbia mais
a maluca paixão que ardia dentro de mim. Quando chegou a minha boca com um
movimento rápido colocou-me em cima dele ambos sentados, puxou meu cabelo para
trás e mordeu meu pescoço, fazendo com que sentisse um misto de dor e prazer,
arranhei suas costas com força, beijei e apreciei cada centímetro dele. E
quando já estava implorando, fez-me sua novamente... e novamente até meu corpo
exausto não aguentar mais.
Eu estava completamente a sua mercê, vulnerável e
enlouquecida de prazer. Já pertencia a ele.
- Com fome? – perguntou quando já estava terminando
de se vestir.
- Devo admitir que sim – respondi sorrindo.
O restante da noite ele foi delicado e carinhoso, tudo
estava perfeito. O apartamento era lindo e aconchegante, foi fácil adormecer na
cama dele e principalmente ao lado dele.
- Enzo. – chamei confusa quando abri meus olhos e
não o encontrei.
Levantei-me apresada e um tanto ainda tonta de sono.
Ele estava no jardim apenas de bermuda fazendo yoga.
Seu corpo definido ficava ainda mais evidente enquanto executava de forma
precisa os difíceis movimentos. Encostei-me a porta de vidro, observando-o por
alguns minutos em silencio, analisei por completo seu lindo corpo e suas varias
cicatrizes, algumas pareciam profundas...
- Bom dia – disse sorrindo e me olhando.
- Bom dia. – respondi passando a mão em meu cabelo.
- Com está se sentindo? – perguntou vindo em minha
direção.
- Bem... Feliz.
- Não percebi que estava me olhando, faz muito
tempo?
- O suficiente para ficar encantada, não sabia que
fazia yoga. – comentei.
- Pratico vários tipos de exercícios, mas tenho
apenas um preferido... – confessou beijando meus lábios e apertando minha pele
fortemente.
Podia sentir o desejo percorrendo nossos corpos, ouvia
faíscas. Quando estávamos juntos não havia controle...
- Vamos dar
um mergulho. – sugeriu sorrindo com malicia.
- Não trouxe meu biquíni. – avisei também sorrindo.
Tinha entendido perfeitamente o que ele pretendia.
- E quem disse que vamos usar roupas. – disse
tirando a bermuda e ficando completamente nu enquanto olhava-me, seu desejo por
mim era evidente.
Fiquei uns minutos paralisada pela visão.
- Claro. – concordei também tirando as roupas
lentamente.
Permaneceu quieto olhando-me fixamente enquanto me
despia, pegou-me no colo e levou-me para a água que estava quente e gostosa.
Então me devorou por inteira... Quando fazíamos amor, não ficávamos dentro das
margens, eram completamente insano e saboroso.
Em um piscar de olhos o dia já estava chegando ao
fim, havíamos passado quase o tempo todo conversando e nos amando. Sentia como
se o conhecesse há anos e estar ao seu lado era fácil, não ficava tão feliz
desde antes de minha mãe falecer... Acabamos passamos aquele dia todo sem sair
do apartamento, ele havia preparado um delicioso almoço para nós, tudo tinha
sido perfeito e não estava com vontade de ir embora, de sair da minha caixinha
de sonhos e voltar para realidade.
- Pensei em leva-la a opera. – comentou me soltando
e se levantando.
Estávamos deitados em uma espreguiçadeira no jardim.
- Adoraria, mas primeiro preciso ir até o meu
apartamento para me arrumar. – avisei sorrindo.
Estava animada seria a primeira vez que iriamos sair
juntos em São Paulo.
- Não precisa. Venha. – disse estendendo-me a mão.
Quando entramos no quarto levei um susto, havia em
cima da cama uma imensa caixa com um laço muito lindo.
- Para você, abra. – avisou sorrindo.
- Como... – balbuciei confusa olhando para ele.
Não tinha percebido ninguém ir até o apartamento e
senti-me um tanto constrangida, pois havia ficado o tempo todo apenas de peças
intimas e uma camiseta dele... Minhas
bochechas rugiram-se.
- Pediu para comprarem, mas a escolha foi minha. –
avisou ainda sorrindo – Sei que gosta de alta costura... Abra.
Ainda constrangida peguei a imensa caixa e desfiz o
laço, revelando um lindo vestido Dior amarelo, tomara que caia, longo, com uma
pequena calda, simplesmente magnifico. Ele conhecia bem meus gostos.
- É lindo Enzo... Mas não precisava. Não posso
aceita-lo. – avisei olhando em seus olhos.
- Arrume-se. – orientou saindo em direção ao
banheiro sem me dar muita atenção.
Estava feliz com o presente, mas não satisfeita,
pois era um pouco demais. Não estava com ele para ganhar mimos e sim porque o
amava.
Fiz um imenso esforço para arrumar meu cabelo com
poucos recursos e fazer uma maquiagem simples, mas o vestido jogou meu cabelo e
a maquiagem para escanteio, era realmente muito lindo e ficou perfeito em meu
corpo.
- Está maravilhosa. – comentou beijando meus lábios
com carinho quando me aproximei já pronta. – Vamos, estamos em cima do horário.
- Obrigada. – agradeci sorrindo e analisando o
quanto ele estava impecável em um smoking preto.
***
Quando chegamos ao teatro, por onde passávamos todos
os olhares estavam em nós, a opera já estava começando e ficamos em um camarote
reservado. Foi tudo muito lindo e emocionante, foi a primeira vez que vi um
espetáculo como aquele e fiquei fascinada. A voz da cantora parecia entrar em
minha alma e toca-la, meus olhos marejaram de lágrimas e minhas mãos ficaram
coladas nas dele o tempo todo...
- Enzo Barbieri. Surpreendo-me em vê-lo. – comentou
uma morena, de olhos azuis, alta e muito linda se aproximando com um imenso
sorriso quando a opera terminou.
Tocou em seu ombro e beijou-lhe o rosto bem próximo
aos lábios. Senti o ciúme percorrer meu corpo.
Quem era ela?
- Que bom vê-la. – respondeu ele também sorrindo.
Serrei meus dentes e torcei os lábios.
- Faz meses que não nós víamos. O que houve? –
perguntou.
- Muitos compromissos.
- Eu soube... Saudades. – disse tocando-o novamente
e falando algo demorado em seu ouvido que o fez sorrir.
A cada minuto que se passava, mais nervosa e tensa
ficava. Ela deixava-me intimidada.
- Prazer Irina. – falou olhando em meus olhos e
estendendo a mão – Digamos... Amiga intima do Enzo.
- Manoela, prazer – disse respondendo o comprimento
e tentando não tremer. Estava com muito ciúme.
Como assim
‘amiga intima’? Quanto intima? Minha mente já fervia
de perguntas.
- Você é realmente incorrigível Enzo, não tem jeito.
– comentou tocando-o novamente e rindo.
Aqueles toques estavam me deixando totalmente
desconcertada, queria um buraco para entrar dentro. Pareciam tão perfeitos
juntos... Parecia conhecê-lo tão bem, de uma forma que eu ainda não o conhecia.
- Seu pai está aqui? – perguntou ele serio.
- Não, vim com um amigo. Meu pai está na Rússia. –
respondeu de forma leve. Ela parecia ser muito elegante e sofisticada. – Agora
preciso ir, mas espero sua visita muito em breve. Temos muito a conversar. –
avisou saindo da mesma forma com que chegou.
Estava fazendo um enorme esforço para não fazer
perguntas, para conter meu ciúme e não tremer. Mas estava sentindo-me
intimidada e diminuída. Ele parecia tão natural e a vontade com ela...
- Manoela. – chamou – Tudo bem? Você parece estar em
outro lugar.
- Estou bem... – sussurrei ainda tentando conter
minhas duvidas. Não estava conseguindo esconder.
- Não precisa sentir ciúme, ela é apenas uma amiga
antiga. – avisou sorrindo, parecia que podia ler minha mente – Vamos. – disse
beijando meus lábios com carinho
Ainda estava
tensa, sua breve explicação não havia sido suficiente para minha mente voraz,
ligeiramente insegura e meu coração apaixonado. A ideia de outra mulher
deixava-me triste. Durante o caminho para seu apartamento permaneci calada e
pensativa, tinha tantas perguntas para fazer, mas ele sempre se esquivava
quando o assunto era sua vida pessoal. Quase não sabia nada a seu respeito...
- Enzo. – chamei assim que chegamos ao apartamento –
Não sei quase nada sobre você, sobre seu passado. – despejei, minha mente
estava a mil - Não conheço seus amigos...
- Sabe bem mais do que imagina e muito mais do que a
maioria das pessoas. – disse se esquivando novamente, ele sempre fazia isto.
- Você é tão fechado, misterioso. – continuei
tentando, precisava saber mais.
- Estas perguntas são porque sentiu ciúmes hoje? – indagou
enquanto tirava o smoking.
- Não, eu... – balbuciei confusa.
- Conheci a Irina na Rússia anos atrás. Tenho
negócios com seu pai e somos bons amigos. – explicou – Não precisa sentir ciúme
– avisou sorrindo e vindo em minha direção.
Aquelas palavras não foram suficientes...
- Quase não fala sobre sua vida. – insisti
novamente.
Queria conhece-lo melhor.
- Não tem nada de especial nela, muito pelo contrário.
Não falo porque não gosto! – respondeu serio. – Mas gosto de estar com você,
principalmente quando estamos ocupados. – disse abrindo o zíper do meu vestido
com cuidado, enquanto beijava minha nuca, meu pescoço, meu ombro...
- Enzo... – sussurrei em protesto.
- Gosto quando não estamos de roupas. – continuou
sem dar atenção a minha negação e terminando de me despir, virando-me de frente
para ele.
Pegou-me no colo e deitou delicadamente na cama.
O restante da noite foi extremamente carinhoso e
romântico, fizemos amor com cuidado e sem pressa. A cada beijo e toque mais
distantes, pequenas e insignificantes ficavam minhas duvidas. E mais envolvida
e apaixonada ficava. Quando adormeci em
meio aos seus braços já não havia espaço para inseguranças, estava tranquila.
Ele tinha esse efeito sobre mim.
Bom dia –
falou beijando meus lábios assim que abri os olhos.
Ele estava deitando de frente para mim sorrindo, era
a visão do paraíso, não conseguia imaginar uma forma melhor de acordar.
- Bom dia. – respondi passando a mão em seu rosto
como se o desenhasse. – Que bom que estou aqui. – comentei.
- Concordo plenamente garota.
- Pare de me chamar de garota, sabe que não gosto. –
pedi seria e ele voltou a me beijar sem dar ouvidos ao meu pedido.
- Lamento, mas preciso voltar para o mundo lá fora.
– avisou levantando-se, só então percebi que ele estava praticamente pronto
para sair.
- Existe mundo lá fora?! – brinquei também me
levantando e enrolando meu corpo nu no lençol. – Em um minuto estou pronta.
- Não precisa correr, ainda vamos tomar o café da
manha, afinal gastou muitas energias esses dias. – comentou sorrindo e
terminando de se vestir.
Olhando-me no espelho do banheiro percebi que
realmente precisava repor minhas energias, tomei um banho rápido e fiz o melhor
que pude com minha aparência.
- Vou viajar por alguns dias, mas prometo lhe
procurar assim que voltar. – avisou enquanto comíamos.
- Que pena, sabe quantos dias? – perguntei curiosa.
- Acredito que talvez uma semana – respondeu serio.
- Nossa isso tudo. – sussurrei. – Está tudo bem? –
minha curiosidade insistiu.
- Sim, apenas negócios.
- Vou sentir sua falta. – confessei tristemente
torcendo os lábios.
Havia acabado me mudar e já iriamos ficar separados
por alguns dias, não estava feliz com isto.
- Eu também. – disse beijando-me com carinho – E
você não imagina o quanto... Vamos, vou deixa-la em casa.
Não consegui evitar de ficar um tanto tensa pela sua
falta, mas aproveitei os dias para descansar meu corpo, procurar emprego e
terminar de organizar minha nova vida em São Paulo. Uma cidade verdadeiramente
surpreendente, cheia de emoções e de lugares lindos para se conhecer, mas
quanto a empregos estava bem complicado para minha área, já tinha ido a quase
todos os grandes escritórios de advocacia que tinha vontade de trabalhar e em
alguns outros que eram mais próximos do meu apartamento. Elisa estava na mesma
citação e já estávamos começando a ficar preocupadas, quando finalmente nós
conseguimos entrevista para o mesmo escritório.
- Estou muito animada. – confessei ajeitando-me no
sofá.
- Ainda não entendo porque não quis levar um
currículo na Barbieri Associados. – comentou Elisa pensativa.
- Não sei muito bem como explicar, mas penso que não
daria muito certo e também ouvi dizer que eles não têm vagas disponíveis.
- Vou me deitar, porque amanha vamos acordar cedinho
e quero estar bem disposta. – explicou levantando-se – Boa noite. – concluiu
saindo.
Quando ela saiu o interfone do apartamento chamou e no
momento em que vi a imagem no visor fiquei muito animada, haviam se passado
seis dias... finalmente ele estava de volta.
- Olá estranho – falei abrindo a porta e
deleitando-me com a visão.
Estava encostado na parede, segurando o paletó nas
mãos, tirou lentamente os óculos escuros e sorriu para mim enquanto olhava em
meus olhos. Suas mãos puxaram-me rapidamente e finalmente nossos lábios estavam
mais uma vez unidos em um beijo quente, longo e delicioso.
- Então é assim que recebi um estranho... de
camisola – comentou analisando meu corpo.
Senti uma tensão percorrer-me por completo, ele
estava muito provocante e eu com saudades.
Havia milhares de borboletas voando sem rumo dentro do
meu estomago...
- Entrei. – falei puxando-o para dentro e beijando
novamente seus lábios com mais vontade e ansiedade.
Passei as mãos em seus cabelos e segurei forte em seu
pescoço, ele jogou o paletó no chão, tirou a camisa, desabotoou a calça,
apertou minha cintura contra seu corpo, pude sentir seu desejo... Tirou minha
camisola lentamente enquanto acariciava minha pele, jogando-a ao chão da sala
junto com sua camisa. Com pressa nos beijávamos e andávamos em direção ao meu
quarto.
Quando a porta se fechou colocou-me contra ela, levantou
meus braços e terminou de me despir enquanto apertava minha pele fortemente,
sem deixar de me beijar. Puxou meu cabelo para trás e seus lábios começaram a percorrer
todas as partes do meu corpo...
- Ahhhhh – gemia de prazer em suas mãos.
- Senti sua falta garota. – confessou entre os
beijos enquanto me levava para a cama e terminava de se despir.
As caricias foram ficando mais urgentes, ele
devorava-me por completo. Estávamos quase desesperados um pelo outro. Com um
movimento rápido colocou-me embaixo dele e fez-me sua sem mais preliminares...
Gemia alto, sem me preocupar se Elisa poderia nos ouvir. Estava louca de
desejo, de saudades e de prazer... Sedenta. E pude notar claramente que ele
também.
Naquela noite não dormimos.
- Está tão gostoso aqui, que não tenho vontade de me
levantar. – confessei ainda em seus braços, assim que o celular despertou.
- Então não se levante. – orientou acariciando meu
corpo com malicia. – Ainda temos algum tempo...
Estávamos deitados, nus e abraçados. Algumas peças
de roupas espalhadas pelo chão, a luz do sol entrando timidamente no quarto e
eu totalmente satisfeita e feliz.
- Tenho um compromisso. – expliquei me levando
devagar e vestindo minhas peças intimas. – preciso me apressar.
- Não tem. – afirmou ele se aproximando – Volte para
cama! – ordenou serio me puxando.
- Não posso, tenho uma entrevista de trabalho. –
avisei soltando minha mão e voltando a me arrumar.
- Cancelei sua entrevista, você vai trabalhar para
mim. – concluiu seguro.
Fiquei espantada com suas palavras, olhei fixamente
em seus olhos esperando por algum sinal de que estava brincando.
- Como assim? – perguntei confusa.
- Fui claro, você vai trabalha para mim. – disse seriamente
– Vá ao meu escritório e se apresente, esta tudo pronto. E agora volte para a
cama. – ordenou novamente. - Restam ainda alguns poucos minutos para aproveitar
da sua deliciosa companhia. – concluiu sorrindo com malicia e olhando para meu
corpo.
- Fez o que? – perguntei tensa, vestindo a primeira
roupa que encontrei. Queria cobrir meu corpo, estava nervosa. - Não fez isso
porque estávamos envolvidos? – indaguei seria me aproximando.
- Não. – respondeu me acariciando o rosto – Fiz porque
sei que você é competente, levantei seu currículo. – concluiu se afastando e
começando a se vestir. – Quero que trabalhei para mim.
Como assim?
Senti-me um tanto perdida.
- Não quero
trabalhar para você, quero a oportunidade que tirou de mim. – avisei balançando
a cabeça em negativa - Tive muito trabalho para consegui-la. – afirmei frangindo à testa.
Minha mente estava confusa e enfurecida.
- Eu sei e admiro seu esforço. – comentou ainda se
vestindo – Mas não te entendo. Estou lhe oferendo uma oportunidade muito
melhor, sabe quantos advogados querem trabalhar para mim. – disse serio
olhando-me e se aproximando.
- Imagino... Mas eu não. – afirmei segura.
- Não se desmereça e não pense que fiz isto em troça
de sexo. – explicou – Se não fosse competente e preparada não lhe contrataria, acredite!
Jamais misturo prazer com trabalho.
Ele estava tão diferente, frio. Parecia outro homem.
- Preciso pensar. – declarei me sentando - Não sei se
devo aceitar. – confessei pensativa.
- Se não quiser não vou lhe obrigar, mas pense bem.
– disse sentando-se ao meu lado – Será uma grande oportunidade para você e
excelente para seu currículo. – explicou tocando em meu rosto - Agora preciso
voltar ao trabalho, depois te ligo. – beijou-me docemente e saiu em seguida não
me dando tempo para despejar minhas duvidas.
Depois de viver emoções inexplicáveis agora estava enfurecida
por sua atitude. Ele em um minuto era um homem doce e gentil e no outro frio e
distante... Não tinha esse direito e por
mais que quisesse essa oportunidade, não sabia se deveria misturar sentimento
com trabalho, pois na maioria das vezes sempre acaba em confusão.
Precisava arejar a mente e de um bom café para
pensar sobre isso, para analisar se deveria aceitar ou não sua proposta. Então troquei
de roupa rapidamente, coloquei meu tênis e fui correr. Passei o dia todo
remoendo aquela história, ele realmente tinha cancelado minha entrevista e eu
estava enfurecida com ele por isto, não podia ter feito isto sem minha
autorização.
- Manu atenda esse telefone ou coloque no silencioso.
– avisou Elisa entrando na cozinha.
- Não quero falar com o Enzo. – respondi desligando
o aparelho. – Como foi sua entrevista?
- Correu tudo bem, fui contratada. – disse sorrindo.
- Parabéns, você merece. – disse com um sorriso
morno.
- Lamento por você.
- Ele não podia ter feito isto
comigo... – murmurei bebendo um gole de café e comendo um pedaço do delicioso
bolo de chocolate em minha frente.
- Eu aceitaria essa vaga, afinal, estaria unindo o
útil ao agradável. – sugeriu sorrindo e
comendo também – Acorda Manu o homem é lindo, poderoso e está te oferecendo uma
oportunidade no maior escritório de advocacia do país, o que mais você quer?
- Tenho medo de que dê errado. – comentei voltando a
beber. – Tenho medo de acordar deste sonho...
- Para com isto, você merece ser feliz. – disse
sorrindo – Mesmo que ele seja um pouco demais... – brincou. – Todas as mulheres
que conheço se derretem por ele.
- Isso não me ajuda muito sabia. – retruquei seria.
– Sabe que sempre fui segura e confiante, mas quando estou com ele sinto-me
vulnerável... Não sei explicar, pode ser pela diferença de idade. Mas é como se
não conseguisse resistir a ele, fico atordoada. Não estou me reconhecendo. –
desabafei tensa.
Estava sendo completamente honesta com ela. O Enzo parecia
estar impregnando em minha alma.
- Realmente, nunca a vi tão envolvida por um homem
antes. – concordou também bebendo café em minha xicara – E olha que durante um
tempo cheguei a pensar que se casaria com o Pedro, já estava até encomendando
meu vestido de madrinha.
- O que senti pelo Pedro nem chega aos pés do que
sinto pelo Enzo. – expliquei torcendo os lábios.
Fechei por alguns instantes os olhos enquanto
pensava. Namorei o Pedro Henrique Albuquerque, um empresário lindo de vinte e
nove anos de idade que conheci em uma festa, por dois anos. Nos dávamos muito
bem, já falávamos em casamento, mas faltava alguma coisa e meses depois de termos
terminado conheci o Enzo, que me arrebatou e virou meu mundo, mudando
completamente minhas certezas sobre relacionamentos e homens.
- Não sei o que fazer com esse sentimento. –
confessei - Tenho medo de acordar e perceber que tudo não passou de um sonho...
- Então vá mais devagar Manu, com mais cuidado. –
orientou – Hoje ouvi uma coisa estranha – sua feição mudou instantaneamente – A
advogada que a fez entrevista comigo, disse que o Enzo é casado. – confessou
tensa.
- Como assim? – indaguei confusa.
- Quando comentei que não foi você quem cancelou sua
entrevista e sim ele, que estavam envolvidos e que ele estava querendo te
contratar, ela despejou seria.
- Não é verdade .– afirmei – Não acredito...
- Também não acreditei, mas ela insistiu e disse que
trabalhou um tempo na Barbieri Associados. – explicou pensativa - Algumas
outras pessoas também concordaram com ela.
- Se fosse verdade a essa altura já saberia... Nós
saímos juntos em publico, conheci seu apartamento, até uma amiga que não gostei
muito. Elas devem estar confundindo. – comentei seria – Concordo que ele seja
um tanto misterioso, mas casado penso que não. – disse balançando a cabeça em
negativa, não poderia ser verdade.
Mas não pude deixar de ficar preocupada e de sentir
um frio em minha barriga.
Será que o
conheço? Minha mente voraz já começava a trabalhar.
- Bom, não pense muito sobre isto. – orientou com um
sorriso torto – É melhor irmos dormir.
Já era tarde, a duvida estava plantada, mesmo
acreditando que não era possível, meus instintos dizia-me que o Enzo escondia
algo. Ainda não o conhecia por completo.
***
O dia tinha acabo de amanhecer o céu estava lindo, o
sol brilhando forte e eu ainda estava deitada com preguiça de levantar. Passei
a noite toda em claro pensando e não tinha resolvido se ficava com o emprego ao
lado dele ou não. Minha mente estava uma confusão, nunca tinha me apaixonado
por alguém desta forma, tão rápido, tão intenso e tão louco. Queria a
oportunidade de emprego no melhor escritório do país, queria ficar ao lado dele
o máximo de tempo possível, mas tinha medo que desse errado justamente por isto.
- Oi, bom dia. Sim, estou bem... Estava pensando em
você. – declarei atendendo ao telefone – Claro que quero passar o fim de semana
ao seu lado. – respondi entusiasmada. – Em meia hora estou pronta. – Conclui
desligando o aparelho e sorrindo de animação.
Em instantes atrás estava com raiva dele pela forma
como se portou e cheia de duvidas a seu respeito, mas agora já estava feliz
novamente.
Como ele podia
exercer esse poder sobre mim? Eram tantas perguntas
em minha mente. Poderia descrevê-lo como um homem sedutor, enigmático e muito
persuasivo, era um ponto de interrogação...
O Enzo que me buscou em casa era outro, leve, solto,
tão diferente, não parecia se conter, premeditar e controlar os atos como antes,
era por este que estava apaixonada. Durante todo caminho sorrimos, conversamos
e nos divertimos muito.
- Nossa. – comentei chegando.
Estávamos no litoral Paulista e era extremamente
lindo. A água do mar tinha uma cor que acalmava meu coração, o ar era puro, o
cheiro das arvores agradavam meu olfato.
- Imaginei que já estava com saudade da praia e fazia
muito tempo que não vinha a esta casa. – declarou entrando.
E sem perder tempo jogou as malas no chão e se
aproximou devagar, olhou por alguns instantes para mim, sorriu e beijou-me
vagarosamente. Seus braços enrolados em minha cintura apertando-a forte contra
si, fazendo minhas costas descerem um pouco para trás, coloquei minhas mãos em
seu cabelo puxando-os com força.
- Vem – disse me pegando no colo.
Aquele momento parecia tão surreal, eu gargalhava de
alegria e sentia que não poderia ficar mais feliz. Ele era mais romântico do
que parecia ser.
O quarto era lindo com grandes janelas que davam
aceso a praia, uma cama enorme no centro e de repente nos nela. Seus dedos
exploravam meu corpo, minhas unhas cravadas em suas costas fortes, nossos
lábios grudados, nos corpos suados, meus cabelos emaranhados, minhas pernas o
abraçaram, o desejo a flor da pele, nos unimos naqueles lençóis brancos como se
estivéssemos dançando uma musica que só tocava em nossa alma... Amamo-nos sem
muita urgência, com cuidado, delicadamente conhecendo o corpo um do outro.
Parada junto à janela olhava a lua refletir no mar
como se o beijasse, ele em retribuição estava calmo e sereno, o vento fazia
minha camisola branca e as longas cortinas do quarto voarem. Era uma cena
perfeita que ficou melhor ainda quando senti o corpo quente do Enzo que me
abraçava delicadamente por trás, encostando seu queixo em minha cabeça e
envolvendo-me com seus braços fortes. Permanecemos ali parados em silencio por
um tempo, podia sentir seu perfume, seu calor. Analisei em instantes minha vida
e que queria sim, ficar o máximo de tempo ao lado dele, que iria arriscar e trabalhar
para ele.
- No que está pensando? – indagou sem se mexer.
- Que vou trabalhar para você. – respondi me virando
ficando com a cabeça no peito dele.
- Fico satisfeito. – comentou me beijando os cabelos
de leve.
Eu sorri, levantei o rosto, estiquei meu corpo, era
bem mais alto do que eu. E o beijei.
O Fim de semana foi simplesmente maravilho e de
certo modo um tanto cansativo. Cozinhou de forma impecável para nós todos os
dias, caminhamos na praia e nos amamos dentro do mar. Estava feliz.
***
O espelho refletia uma mulher confiante, seus olhos
grandes e verdes estavam brilhando, seus cabelos loiros presos em um choque
elegante, seu corpo esguio coberto por um terno de corte perfeito... Sempre me
achei bonita, mas hoje estava especialmente me sentindo maravilhosa, poderia
ser a felicidade saltando para fora. Estava animada para meu primeiro dia de
trabalho, queria causar uma boa impressão profissional em todos e especialmente
nele.
Nem o transito caótico da cidade nem a Elisa
cantando dentro do carro me fez perder o bom humor e desconcentrar do meu
objetivo. Ela esta alegre como sempre, tinha horas que pensava que ela não era
normal, pois o tempo todo era feliz, não existiam dias cinza em seu mundo só no
meu.
Meus olhos pararam e um frio percorreu minha espinha,
já tinha visto fotos, mas pessoalmente era muito mais impressionante... O
complexo de prédios onde era o escritório de advocacia mais prestigiado do
Brasil; Barbieri Associados.
- Bom dia em que posso ajuda-la? – perguntou a moça linda
e impecável atrás do balcão na recepção, assim que me aproximei.
- Sim, sou Manoela Vieira – respondi esperando uma
reação que não aconteceu – Nova advogada, começo hoje. – conclui sorrindo.
Ela parou um instante e me olhou dos pés a cabeça,
depois digitou algo no computador a sua frente. Com um sorriso falso me
explicou aonde ir e me entregou um crachá para entrar.
Tudo era muito lindo, quanto mais andava, mais
impressionada e entusiasmada ficava.
- Senhorita Vieira, vou precisar dos seus documentos
até amanha e seja bem vinda ao Grupo Barbieri. – disse a moça simpática do departamento
pessoal. – Vá até o ultimo andar e converse com a secretária do Sr. Barbieri, o
nome dela é Andreia. – concluiu sorrindo.
Agora sim, estava contratada e iria vê-lo. Depois do
fim de semana perfeito no litoral, fazia dois dias que não nos víamos, nós
falando apenas por telefone, já estava com saudades, mas claro que iria me
comportar no ambiente de trabalho.
Quando as portas do elevador se abriram revelando o
ultimo andar, onde ficava a sala do presidente e dos diretores, fiquei uns
instantes boquiaberta, era simplesmente lindo. Uma ampla sala de espera muito
bem decorada, com um enorme sofá de couro branco.
- Gostaria de falar com o Enzo... quero dizer com o
sr. Barbieri – disse corrigindo meu erro e sorrindo para a secretária do andar.
- Seu nome, por favor. – perguntou com indiferença.
- Manoela Vieira.
Olhou-me por completa enquanto verificava no
computador. Pude notar a curiosidade em seu olhar.
- Seja bem vinda. O senhor Barbieri vai recebê-la
agora. – finalizou indicando onde entrar.
Eu estava ansiosa.
- Olá. – disse empurrando a pesada porta de madeira
e sorrindo.
Estava lindo, de pé encostado a mesa, com um de seus
clássicos ternos pretos e um sorriso provocador nos lábios. Ele combinava
perfeitamente com aquela sala cheia de livros.
- Que bom que veio. – disse vindo em minha direção e
beijando meus lábios levemente.– Sente-se. – indicou se sentando também ao meu
lado.
A parede lateral da sala chamou-me a atenção, era
totalmente de vidro e dela via-se a cidade que parecia pequena e frágil lá
embaixo.
- Será minha assistente vai trabalhar somente para
mim, não precisa responder a mais ninguém.– explicou sorrindo – Sei que não
preciso falar, mas aqui deve me tratar como seu chefe e lhe tratarei como
qualquer outra funcionária, com imparcialidade. – continuou.
- Claro. – concordei seria.
- A Helen lhe aguarda lá fora, é a sua secretária,
vai lhe mostrar sua sala e ficará a sua disposição. Aproveite o primeiro dia,
apenas para conhecer as instalações e o restante dos colaboradores. – informou passando
os dedos em meus cabelos – Nunca os tinham visto presos... Senti sua falta. –
confessou.
Fechei meus olhos lentamente, meus lábios se
umedeceram esperando o beijo que tanto queria.
- Aqui não. – disse se colocando distante novamente.
Queria puxa-lo, brigar com ele por não ter me
beijado, obriga-lo a me beijar.
- E tem mais uma coisa... – percebi que respirou fundo - Preciso lhe
confessar algo que já deveria ter contado há muito tempo. Sei que irá se
magoar, mas preciso que confie e que principalmente acredite em minhas palavras.
– sua expressão estava seria.
Senti um gelo percorrer meu corpo.
- Desculpe-me pela demora em contar-lhe a verdade,
mas Manoela eu sou...
Não houve tempo para terminar a frase, uma morena
estonteante entrou na sala sem bater ou avisar.
- Desculpe-me por isto. – disse baixinho me olhando
nos olhos.
- Enzo... – chamou se aproximando.
Suas roupas deixavam as minhas com vergonha.
- Oh! Não sabia que estava com alguém aqui. – seus
olhos pareciam curiosos – Quem é você? – perguntou sem muito entusiasmo.
- Está é a senhorita Manoela Vieira nova advogada
assistente que contratei. – disparou ele rapidamente não me deixando responder.
Estava confusa olhando para ele, parecia agitado e
tenso.
- Não sabia que estávamos precisando de novos
advogados. – indagou ela beijando os lábios dele levemente e ficando ao seu
lado. – Meu irmão quer marcar uma reunião.
O chão se abriu aos meus pés, o mundo girava, me
sentia tonta, meu estômago embrulhou queria vomitar.
Estava começando a entender tudo...
Como pude ser
tão tola? Por isso não falava de sua família.
- Barbara Barbieri, prazer. – apresentou-se estendo
a mão e sorrindo.
- Prazer. – respondi o cumprimento paralisada.
- Diga ao Marcelo que a tarde estou disponível e nos
de licença agora. – ordenou friamente.
- Tudo bem. – respondeu sorrindo e se retirando da
sala.
Continuei paralisada olhando para ele, sem conseguir
acreditar. Senti as lagrimas encherem meus olhos.
- Manoela, posso explicar. – disse pegando na minha
mão – Sei o que parece, imagino que esteja chateada, mas acredite não existe
nada entre nós, não a amo, nosso casamento é apenas de aparências...
- Você me enganou. – afirmei quase gritei o
interrompendo e me soltando. – Me fez de idiota esse tempo todo. Você é
casado... Não passei de sua amante. – esbravejei – Como pode fazer isto?
Minhas mãos estavam tremulas, minha mente confusa e
meu coração despedaçado.
- Por favor, acalme-se e me escute. – pediu
tocando-me novamente - Você é mais importante para mim do que imagina...
Não estava mais ouvindo sua voz, sai rapidamente do
prédio, quase correndo. O mundo estava desabando sobre minha cabeça, estava
desorientada na rua, não sabia para que lado ir, estava perdida e zonza no meio
dos carros.
Aquilo não podia estar acontecendo comigo... Era
mentira... Não podia acreditar, O sonho havia se acabado.
Como fui idiota!
***
Meus olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, a
garrafa de Tequila quase vazia em cima da mesa, minha aparência de alguém que
saia de um velório, meus cotovelos apoiados segurando minha cabeça que parecia
que iria cair a qualquer momento, meus cabelos emaranhados como se nunca
tivessem sido penteados, revelavam o que estava sentindo e o que se passava em
minha mente. Queria apagar da memória os últimos meses... Que nada daquilo tivesse acontecido...
Queria...
Olhando para o celular, as lágrimas rolavam
incessantemente molhando a mesa ainda mais. Sentia meus olhos queimando e uma
imensa tristeza tomando conta do meu ser.
Como ele pode
fazer isso comigo? Era uma completa idiota, uma tola
apaixonada por um homem casado.
- Não vai atendê-lo? – perguntou Elisa pegando o
celular.
- Para ouvir mais mentiras do que já ouvi? Não,
obrigada. – respondi sem me mexer. – Se é verdade que não a ama, porque está
com ela?! Ele teve mais de três meses para me contar a verdade e permitiu que
descobrisse assim... Vou esquecê-lo e tira-lo de uma vez da minha vida. –
afirmei bebendo mais um gole seco que desceu queimando.
- É um canalha, mentiroso. – disse também bebendo
Tequila.
Eu já não estava mais prestando atenção aos seus
conselhos, minha mente estava em outra dimensão. Só queria ficar quietinha
chorando e acabar com aquela garrafa de bebida para tentar esquece-lo.
Era minha única
opção.
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