domingo, 26 de julho de 2015

Livro, De Olhos Fechados - Capítulo I, Primeira Parte.

Ler Ouvindo: Adam Levine - Lost Stars

_________________________________________________________CAPÍTULO I

Um ano antes.
Ele.

Quando abri a porta do quarto pude lembrar-me do dia em que tentei sair daquele mundo sórdido para não mais voltar. Estava de cabeça baixa escutando seu sermão, ele gritava nervoso e desapontado comigo por estar agindo como um homem fraco, por não ter cumprido suas ordens, disse-me que não havia espaço para irresponsabilidades em minha vida e que lhe devia muito. Então me socou forte o rosto, jogando-me ao chão para jamais me esquecer de suas palavras e no outro dia me enviou para seu irmão na Itália, onde fiquei por sete longos anos...
Era forte, severo e muito importante. Sua presença impunha respeito, queria que fosse igual a ele e assim aconteceu... Naquela época eu tinha apenas dezesseis anos de idade e muito medo dele, agora estou com trinta e oito e ele prestes a morrer.
- Enzo, preciso que faças tudo conforme lhe pedi... És o único que pode! – avisou olhando em meus olhos com muita dificuldade.
Suas palavras fizeram minha mente viajar no tempo, voltei imediatamente na conversa que tivemos dias atrás... Ainda recusava-me a aceitar.
- Promete que irá fazer o que lhe pedi? – perguntou como os olhos por desfalecer. – Sabe o quanto isto é importante para mim.
Havia um nó em minha garganta.
- Claro, vou tomar conta de tudo. - respondi, mesmo não querendo. – Fique tranquilo e não pense mais nisto. – aconselhei tenso.
Minha cabeça fervia, os nervos pareciam que iam explodir. Todos os planos que fiz para fugir daquela vida estavam sendo destruídos e a única pessoa que algum dia se importou de verdade comigo estava prestes a morrer.
- Estou orgulhoso de você, já é melhor do que eu fui. – analisou – Lhe considero com meu próprio filho. Confio que cuidará do que estou lhe deixando. – finalizou com um sorriso morno.
Ele nunca havia me dito nada parecido, nunca foi um homem amoroso ou carinhoso, muito pelo contrario sempre foi frio e cruel. Aquelas palavras significaram muito para mim.
- Barbara – chamou virando-se para ela que estava sentada ao lado dele na cama – Minha filha, seja uma boa esposa para ele. Sei que este casamento é complicado, mas também sei que vai conseguir. – orientou tocando em sua mão – Avise ao seu irmão quando ele chegar que o Enzo continua no comando do escritório e da rede, que esta é minha ultima vontade.
- Sim papai. – concordou ela em meio às lágrimas. – Farei tudo que pediu.
Fiquei parado uns instantes, encostado na parede, vendo todos se despedirem e seus olhos se fechando para sempre. Naquele momento um frio me percorreu a espinha, estava profundamente triste pela sua morte, mas aliviado pelas oportunidades que tinham se abrido. Finalmente estava livre para fazer o que queria... O que precisava. Estava no inferno e agora poderia ter uma chance de sair ou de mudar completamente o rumo da minha história, mas também estava mais envolvido que nunca.
O jogo tinha começado.
- Providenciem o velório que ele merece! – ordenei me retirando daquele quarto fúnebre.
Tudo que conseguia pensar era em como iria sair dessa vida, que, a própria vida me colocou. Não pude escolher meus caminhos, não pude tomar minhas próprias decisões e mesmo antes de morrer ele me amarrou mais uma vez, tinha uma ultima missão a cumprir.
Estava à frente de um verdadeiro império do qual sempre quis distancia, mas nunca consegui fugir. Agora tudo poderia ser diferente, não havia mais ninguém que pudesse me mandar ou segurar... Iria cumprir seu ultimo desejo e o meu também!
- Aonde você vai? – perguntou Barbara entrando no meu quarto e vendo as malas no chão.
- Para a Conferencia na Suíça. – avisei sem lhe dar muita atenção, ainda olhando para o telefone celular e pensando na ligação que havia acabado de desligar.
Estava com dificuldade para acreditar naquelas palavras...
- Mas pensei que com a morte do meu pai você desistiria. – explicou ela me tocando – Enzo, preciso de você ao meu lado neste momento.
 - Sou o homenageado, não posso faltar.
- Por favor, não vou conseguir suportar isto tudo sozinha - suplicou em lágrimas.
- Preciso ir até a Itália dar a noticia pessoalmente e também de um tempo longe, em cinco dias estou de volta – respondi me afastando.
- Mas e o velório? – insistia – Tem que estar aqui para receber as pessoas...
- Não vou estar presente, Desculpe. – conclui saindo e deixando ela sozinha perplexa me olhando.
Não havia mais tempo para despidas, para lagrimas... não havia tempo a perder. As informações que tinha recebido pelo telefone minutos atrás mudaram completamente o rumo dos meus planos.
Eles iriam pagar!

[...]

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